Enquanto cobrimos a ISE em Amsterdã, vamos acompanhando de longe as notícias do mercado brasileiro. Uma das mais importantes dos últimos dias foi a confirmação da data de 29 de março para o switch-off paulista, com o desligamento dos transmissores analógicos das emissoras de TV aberta. Essa era a data original, mas esteve perto de ser trocada até duas semanas atrás, por pressão das principais redes. O problema, como já havia acontecido em Brasilia (a primeira grande praça a fazer switch-off), é que nem todas as residências da Grande SP estão preparadas para receber sinal digital.

Essa é uma disputa que envolve muitos interesses, e talvez valha a pena conferir os detalhes nos dois sites que melhor cobrem esse segmento: Tela Viva e Convergência Digital, além do próprio site do Fórum SBTVD. As emissoras não querem correr o risco de perder telespectadores, enquanto as operadoras de celular – que irão herdar as frequências hoje ocupadas pelos canais analógicos – buscam fazer a transição o mais rápido possível, para lançar o quanto antes seus pacotes de banda larga 4G. É muito dinheiro envolvido.

O governo optou por uma solução conciliatória. A data oficial foi confirmada, ou seja, em 29/03 as emissoras devem desligar seus transmissores analógicos, passando a gerar somente sinal digital. A mais recente pesquisa do Ibope revelou que 8% da população na Grande SP ainda possui TV analógico, inclusive modelos de tubo; esse pessoal, portanto, ficaria sem ver TV aberta se o switch-off fosse hoje.  Mas é difícil crer que as emissoras o façam, abrindo mão desse público. Estima-se que isso represente aproximadamente 300 mil domicílios. E, como a audiência de todos os canais vem caindo (por causa da internet), são telespectadores que não podem ser desprezados.

O jeitinho brasileiro decidiu que a data oficial será, digamos, flexibilizada. A EAD (Entidade Administradora do Processo de Redistribuição e Digitalização), empresa criada pelas operadoras para coordenar o switch-off, promete acelerar a distribuição gratuita de kits às famílias de baixa renda. Os kits contêm antena e receptor digitais, que podem ser conectados a qualquer TV. Mas até agora somente 3% dos paulistanos se cadastraram para recebê-lo, demonstrando desconhecimento (ou desinteresse) sobre a mudança que irá afetar suas vidas – o que seria do brasileiro sem TV?

A Anatel concedeu um prazo extra de 60 dias (esse foi o jeitinho), a partir de 29/03, para concluir a distribuição – o total de kits reservados para SP é de 1,87 milhão, com prioridade para beneficiários do Bolsa Familia, Bolsa Escola, Minha Casa Minha Vida e outros programas sociais do governo federal. O cadastramento é feito através do site Seja Digital. A expectativa otimista é de que, até 29/05, todo esse pessoal esteja devidamente equipado. Será?

Detalhe: não são apenas as operadoras de celular 4G que têm pressa. O governo também corre contra o tempo, à espera de que elas paguem R$ 2.6 bilhões referentes às parcelas devidas do leilão das frequências de 700MHz, hoje usadas pelas emissoras. As operadoras – TIM, Vivo, Claro e Algar – tentam enrolar esse pagamento. E assim, de jeitinho em jeitinho, vamos levando.

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