Sou usuário de lojas online desde antes da era Google, quando abri uma conta na Amazon.com (USA). Deve ter sido por volta de 2003… Foi, sim, uma revolução nos métodos de consumo em todo o mundo, alterando para sempre a relação fornecedor-cliente.
Os problemas, a meu ver, começaram quando as lojas online, lideradas pela própria Amazon, inventaram o conceito de market-place. Seus sites foram transformados numa espécie de vitrine virtual onde qualquer comerciante – e hoje em dia até uma pessoa física – pode expor seus produtos, pagando um percentual ao site. Uma mão na roda para quem não tem como manter um ponto de venda físico, muito menos acessar os milhões de clientes que passam diariamente por uma loja virtual.
Era para ser um tremendo ganha-ganha, só que não. Como sempre de olho nas melhores oportunidades, entraram em cena os “espertinhos da internet”, aqueles empreendedores – desculpem, o nome está totalmente desmoralizado – que só visam lucro fácil e mais nada. Alguém dirá: “Mas não é assim o capitalismo”? De fato, espertinhos sempre houveram, como diria Sergio Moro. Assim como fake news não é uma criação da internet, golpes e fraudes não começaram ontem. Só que agora os fraudadores contam com o “endosso” dos grandes sites, que na prática não têm como controlar (alguns parece que nem fazem questão disso) os bastidores de seus market-places.
Já comentamos aqui o que acontece todo ano na Black Friday – e que vai continuar acontecendo. Este ano, com a pandemia deixando milhões de pessoas sem emprego, o problema só poderia mesmo se agravar. Criou-se então o que alguém já chamou de “tempestade perfeita”:
*Grandes sites querendo aumentar o número de visitantes e de interações;
*Milhões de pequenos negócios à beira da falência e precisando vender a qualquer custo;
*Consumidores sem poder sair de casa e, portanto, mais propensos às compras online;
*Eternos problemas de logística (funcionários dos Correios em greve, por exemplo);
*Apelo mais agressivo às promoções, que trazem ao mercado mais produtos de má qualidade (ou de procedência duvidosa).
Tudo somado e misturado, temos uma quase selva em que o consumidor frequentemente sai perdendo. A compra de um simples mouse de computador pode se transformar num calvário. Você entra no Amazon, Magalu, Americanas ou qualquer dos sites varejistas mais conhecidos, escolhe seu produto, passa os dados do cartão de crédito e fecha a compra, só que quem irá lhe entregar não é nenhuma dessas grandes empresas, mas alguém de quem você jamais ouviu falar. Pode dar certo? Sim, na maioria das vezes funciona. Mas, quando não, prepare-se para boas dores de cabeça.
Quando o produto não chega na data prometida (maioria esmagadora dos casos: vejam aqui), você pode rastreá-lo para saber se já saiu da loja e está “a caminho” através de uma transportadora que também não foi você que contratou. Frequentemente, a culpa é colocada sobre os Correios – e você não tem a menor chance de saber se essa é a verdade. As informações fornecidas, quando muito, são lacônicas e protocolares, do tipo “estamos fazendo de tudo para resolver o seu problema”.
Passam-se os dias, semanas, e o tal rastreamento se mostra totalmente inócuo, pois é impossível que uma mercadoria despachada há 15 dias num bairro de São Paulo, por exemplo, ainda não tenha chegado ao seu destino num outro bairro da mesma cidade. A menos que tenha sido desviada da rota, situação em que a primeira providência deveria ser avisar o destinatário. Mas não conte com isso.
Pode acontecer de você receber seu dinheiro de volta (já passei por essa experiência, mas foi com a Amazon.com USA). Só que nada resgata o tempo perdido e, principalmente, os momentos de raiva. Estes, claro, não têm preço. Nem promoção que os pague.
2 thoughts on “E-commerce só cresce. E as armadilhas também.”