Se alguém ainda tinha dúvidas sobre a crueldade do aquecimento global, a seca que há meses abate a região amazônica é o desastre que faltava. Pela primeira vez na história, a água está rareando num dos pontos mais visitados dali – o encontro entre os rios Negro e Solimões, que resulta no Amazonas, maior curso d’água do planeta. Já estive lá e posso garantir que é um espetáculo inesquecível.

Esse, digamos, acidente que nada tem de acidental é apenas um exemplo. Já vi diversas explicações técnicas, todas fazendo sentido, mas o fato é que o aquecimento dos mares (causado pelo efeito estufa, que por sua vez é consequência da poluição) está “puxando” a água dos rios em algumas regiões; ou então provocando inundações grandiosas, até mesmo onde isso jamais foi imaginado: a África, mais precisamente num pedaço da Líbia, país que tem a maior parte de seu território coberta pelo deserto (vejam no vídeo).

É isso. Seca na Amazônia, chuva no deserto, derretimento de calotas polares ao Norte, temperaturas extremas ao sul… li que este ano chegou a fazer 38 graus numa vila da Sibéria, vejam só! Alguém, abusando da hipocrisia, há de lembrar que esses fenômenos sempre existiram, só que não eram divulgados. Vai saber se alguma vez nos séculos passados choveu no deserto…

Para não fugir do tema deste blog, não vou comentar aqui os efeitos ambientais dessa catástrofe na Amazônia, nem a situação das populações locais, que dependem dos rios para sobreviver, ou as previsões dos especialistas para 2024 caso as chuvas não voltem logo (podemos enfrentar uma séria crise de abastecimento de água e energia em todo o país. Para o nosso segmento, a notícia da semana é que a estiagem amazônica começa a afetar o transporte de cargas, já que boa parte dessa atividade é fluvial.

Produtos que saem do Polo Industrial de Manaus são transportados de barco até Belém (Pará), de onde saem em navios maiores para os vários portos do país; ou até Porto Velho (Rondônia), e aí transferidos para caminhões que desbravam as intermináveis estradas do Centro-Oeste até chegar no Sudeste. Com rios secos, os barcos encalham com as cargas (como na foto acima), aumentam o custo dos fretes e a demora na entrega das encomendas. Considerando que estamos às vésperas da Black Friday, hoje a principal data do ano para indústria e varejo, o problema pode se tornar sério.

Segundo o Cieam (Centro da Indústria do Estado do Amazonas), as empresas ainda podem ajustar seus estoques até novembro e, com isso, diminuir o impacto da falta de produtos (vejam aqui). De qualquer forma, é terrível pensar que o chamado “pulmão do mundo”, após anos de descaso com o desmatamento e as queimadas, se vê agora diante de um problema ainda mais grave: a falta de água.

1 thought on “O mundo de cabeça para baixo

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