Por Don Clark e Jessica Vascellaro – THE WALL STREET JOURNAL
Aquele velho tubo de válvulas já não é mais o mesmo.
Assistir à TV é muito mais complexo hoje, quando uma avalanche de conteúdo via internet e aparelhos móveis chegam à sala de estar. Um dos tópicos mais quentes desta semana na Consumer Electronics Show – CES, a feira de eletrônicos de Las Vegas, é como dar sentido ao caos de entretenimento quando os velhos métodos – mudar de canal ou ver o guia de programação na tela – não parecem se aplicar mais.
A Samsung Electronics Co., a maior fabricante de TV do mundo em volume de vendas, está usando a feira para exibir um televisor que responde a comandos de voz e gestos sem necessidade de controle remoto. A LG Electronics Inc. afirmou que está trabalhando num produto ativado a voz e gestos e a especialista em reconhecimento de voz Novauris Technologies Ltd. está trabalhando com a Panasonic Corp. para trazer tecnologia de reconhecimento de voz para a TV e outros aparelhos.
Enquanto isso, é amplamente esperado que a Apple Inc. – cuja tecnologia de voz, chamada Siri, ajuda a comandar seu mais recente iPhone – aplique a abordagem à TV, em algum momento. A empresa de tecnologia recentemente discutiu com executivos de entretenimento novas tecnologias que poderiam controlar telas de televisão via voz e movimentos em vez de usar controles remotos, segundo pessoas a par da situação. A companhia, que não tem presença oficial na CES, ainda não confirmou tais planos. Já empresas como a Yahoo Inc. e a Gracenote Inc. estão se apoiando em complexos algoritmos e técnicas de análise de som para oferecer informações extra sobre programas e permitir que clientes ofereçam oportunidades personalizadas de publicidade e compras online.
Seleção de conteúdo formatado
Além da enorme quantidade de conteúdo, encontrar programas é complicado pelo fato de que alguns participantes importantes do mercado – por exemplo, empresas de cabo e satélite, assim como a Apple e a Amazon.com Inc. – estão construindo vastos repositórios de programação em vídeo e não estão necessariamente a fim de deixar outras empresas pesquisarem seu arquivo. “Os obstáculos para conteúdo dizem menos respeito a tecnologia do que a questões de direitos”, diz John Batter, diretor-presidente da MediaNavi, uma das empresas que está tentando facilitar a pesquisa em tal variedade de fontes de vídeo. “Estamos trabalhando nisso.”
De fato, serviços de cabo e satélite, que há muito controlam como as pessoas assistem à televisão, estão dando duro para atualizar suas próprias interfaces e resolver o problema de pesquisa de conteúdo para manter uma vantagem sobre os concorrentes. Até agora, a maioria tem se concentrado em como tornar seu conteúdo mais fácil de navegar via tablets. Não que todo mundo esteja antenado nesse jogo. Cerca de 25 milhões de lares nos Estados Unidos hoje têm o que a indústria chama de TVs inteligentes, que têm conexões de internet embutidas, estima a firma de pesquisa de mercado Parks Associates. Mas só 55% desses usuários chegaram a conectar seus aparelhos à internet, estima ela.
A própria ideia de assistir a conteúdo da web em televisores, que surgiu em meados dos anos 90, enfrentou uma reação negativa que persistiu até que os hábitos dos telespectadores começaram a mudar. O público adquiriu um gosto por vídeos online como os do serviço YouTube, da Google Inc. Outros se acostumaram a baixar programação de serviços como o iTunes, da Apple, e a ver programas via streaming pelo Netflix. TVs e caixas de cabo e satélite inteligentes têm ajudado a transferir conteúdo de PCs para TVs, mas a maioria dos consumidores está usando serviços que oferecem uma seleção de conteúdo formatado – às vezes, em forma de aplicativos – em vez de usarem um navegador ou site. Esses provedores de serviços geralmente oferecem uma experiência semelhante à de assistir à TV com um controle remoto convencional, que percorre um guia de programação.
Monitorar os hábitos dos usuários
A Google já tentou trabalhar com fabricantes de televisores para possibilitar aos usuários conduzir buscas por texto usando controles remotos que têm um teclado como o de computadores. Mas o serviço Google TV não encontrou muitos adeptos até agora, embora a companhia esteja usando a feira CES para mostrar uma interface simplificada e novos parceiros para equipamentos.
Outros estão desenvolvendo abordagens mais sofisticadas para permitir que controles remotos ajam mais como um mouse de computador ou que reproduzam a maneira como gestos executam ações na tela de um celular inteligente. A pioneira de TVs Philips Electronics NV, por exemplo, já demonstrou a uWand – que a companhia chama de tecnologia de remote touch, ou controle remoto por toque, que pode ser embutida em controles remotos para que estes apontem mais precisamente a objetos na TV para selecionar programas e executar comandos. A LG afirma que o que ela chama de Magic Remote pode executar feitos similares tão bem quanto controles de voz e gestos, e estará disponível no segundo ou terceiro trimestre; os preços ainda não foram definidos.
A MediaNavi, divisão da francesa Technicolor, está usando tablets como o iPad como instrumentos de controle para ajudar a pesquisar diferentes repositórios de conteúdo. A companhia planeja lançar este ano um aplicativo chamado M-GO que, segundo Batter, pode ajudar a monitorar os hábitos televisivos dos usuários para gerar recomendações personalizadas.
Reconhecimento de voz
Embora o aplicativo seja grátis – e vai servir como auxiliar de navegação para múltiplos provedores de conteúdo – a MediaNavi planeja ganhar dinheiro alugando ou vendendo filmes de sua própria coleção, diz Batter.
Questões de direitos autorais também podem afetar a disponibilidade de programação em diferentes países. Em certos mercados, como o Brasil, a expansão da TV acessada via internet também é dificultada pela ainda limitada oferta de conexões rápidas o bastante para transportar a enorme quantidade de dados requerida por transmissões de vídeo. Embora uma grande porção dos vídeos oferecidos via internet hoje sejam na base do on-demand, algumas restrições para a transmissão ao vivo estão afrouxando.
Os preços também estão caindo para televisores aptos a rodar conteúdo online. A Samsung é uma das várias fabricantes que estão acrescentando funções a seus aparelhos na esperança de conter a queda nos preços. Ela planeja lançar uma função de reconhecimento de voz neste trimestre para sua Smart TV. Boo-Keun Yoon, o diretor dos negócios de TV da empresa, não revelou preço mas estimou que a nova capacidade possa acrescentar de US$ 300 a US$ 500 ao preço das novas TVs.
Texto traduzido e publicado no jornal Valor Econômico em 23/01/2012