Um dos aspectos menos abordados desse escândalo envolvendo o banqueiro Daniel Dantas e membros do governo coloca, de novo, a mídia em papel de protagonista. Jornalistas que deveriam aparecer apenas na assinatura das matérias têm seus nomes envolvidos com os acontecimentos em si. Quando um jornalista, em vez de repórter ou comentarista, vira personagem, algo está errado.

Segundo a Folha de S.Paulo, a Polícia Federal fez um relatório listando vários jornalistas com quem Dantas tem relacionamento, digamos, muito estreito. A lista inclui nomes conhecidos, como Diogo Mainardi e Lauro Jardim (Veja), Guilherme Barros e Elvira Lobato (Folha), João Saad (dono da Rede Bandeirantes de Rádio e TV) e outros. Segundo o jornal, o tal relatório – que não foi publicado, para preservar esses nomes – não faz acusações, apenas cita os jornalistas como contatos de Dantas, o que não traz em si nada de errado. O problema é a simples existência de tal relatório, como se os jornalistas estivessem ligados a algum crime.

O autor do relatório seria o delegado Protógenes Pinheiro, que acaba de ser destituído das investigações sobre o Caso Dantas. A propósito: a justificativa dada pelo ministro da Justiça, Tarso Genro, de que “foi coincidência” o delegado ser chamado para fazer um curso justamente nessa hora, é risível como a maior parte das declarações de ministros do atual governo.

Voltando aos jornalistas: se em algum momento eles usaram Daniel Dantas e seus assessores como fontes para denunciar falcatruas do governo (e Dantas deve mesmo saber muita coisa), nenhum problema. A tentativa de envolver os jornalistas como se fossem personagens do escândalo é tão absurda que não se sustentou por dois dias. O mais grave, a meu ver, está na informação – que circula nos bastidores das redações – de que Dantas financia membros da mídia (e não são estes citados) para manterem blogs que fazem circular as versões que interessam ao banqueiro.

Vejam como é complicado o papel da mídia, que aliás comentei aqui na semana passada. Até outro dia, Dantas era um “grande empresário” que denunciava escândalos do governo. A partir do momento em que contratou para representá-lo figuras como José Dirceu, Luiz Eduardo Greenhalgh e outros petistas, tornou-se alvo da polícia, que aliás faz muito bem em investigar tudo isso até o fim.

Moral da história para todo jornalista honesto e de bom senso: muito cuidado com as fontes que você escolhe.

Para quem quiser mais detalhes sobre o assunto, sugiro a leitura deste texto, do site Comunique-se. E sugiro também um livro interessantíssimo: “Escândalo”, de Mario Rosa,

1 thought on “Daniel Dantas e a imprensa

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