Não sei se a medida tem a aprovação do novo ministro Aloysio Mercadante, mas o MEC anunciou que irá distribuir 900 mil tablets a escolas públicas. Segundo apurou a Folha de São Paulo, será um investimento de aproximadamente R$ 330 milhões, sendo que apenas um terço dos aparelhos ficará com o Ministério; o restante será repassado a prefeituras e governos estaduais.

Pode parecer uma boa notícia, mas o jornal questionou o MEC se haveria um plano para introdução dos tablets, ou um método pedagógico preparado para utilizá-los. A resposta – acreditem – foi: não, o método será desenvolvido “na prática, após a aquisição das máquinas”. O jornal ouviu também especialistas, e um deles, a pesquisadora Lea Fagundes, da UFRGS, comentou que não houve consulta aos pedagogos do Ministério para aferir se essa era mesmo a melhor destinação daquela verba. Como um tablet básico é capaz de armazenar o conteúdo de aproximadamente 300 livros, acredita-se que será um grande avanço para escolas que sequer dispõem de bibliotecas. Só não se explicou como um único aparelho poderá ser compartilhado, ao mesmo tempo, por vários estudantes.

A notícia me pareceu tão esquisita que fui puxando pela memória. Que há um forte lobby em Brasilia para vender computadores ao governo, já se sabe faz tempo. Que o ministro Mercadante sempre defendeu a implantação de computadores nas salas de aula, idem. Que é ele também um dos mais ardorosos defensores da fabricação de tablets no país, também. Mas lembrei de várias reportagens já veiculadas mostrando dezenas de computadores abandonados em escolas (vejam este vídeo), por absoluto descaso dos responsáveis e despreparo de professores e assistentes educacionais para usá-los. Tudo indica que estamos diante de um remake desse tenebroso filme.

A propósito, o jornalista americano Jason Perlow, do site ZD Net, analisou dias atrás a questão do uso educacional dos tablets, ao comentar o novo programa iBook, da Apple, que propõe a adoção em massa do iPad nas escolas (e que, aliás, está sendo duramente criticado por experts). Perlow fez as contas e concluiu: sai mais barato mandar um ser humano a Marte do que distribuir tablets a todos os estudantes americanos!!!

Pode ser, mas isso – acrescento – é problema dos americanos. Aqui no Brasil, um país tão rico, vale mais a pirotecnia política. Brincar com a educação é muito melhor.

2 thoughts on “Tablets para o povo

  1. Infelizmente não há nenhuma novidade. O governo sempre gasta primeiro e planejda depois.

    São normais frases do tipo “vamos fazer, lá na frente veremos como ficam as coisas”. Ou algo como “o homem mandou comprar, se é útil ou não é outro problema”.

    Mas a matéria da Folha contém muitas imprecisões. Serão 600 mil tablets e investimento de R$ 150 milhões, menos da metade dos R$ 330 milhões noticiados.

    Além do mais, a modalidade do edital também está errada. Leilão busca obter o preço mais alto pelo produto, o que obviamente não é o objetivo da licitação. Provavelmente será adotada a modalidade Pregão, também conhecida como leilão holandês ou leilão reverso, onde o objetivo é comprar pelo menor preço. E nesse caso o valor estabelecido não é o “mínimo estimado em leilão”, e sim o MÁXIMO estimado para o certame.

    Abração.

  2. O povo não esta precisando de tablete, mas sim de saúde, educação e segurança.

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