Ian Shepherd é um engenheiro de áudio inglês que lançou, através de seu site Production Advice, uma espécie de “guerra santa” contra a música com compressão. Segundo ele, há hoje uma disputa entre os profissionais de música para produzir gravações cada vez mais altas, usando para isso taxas de compressão que acabam destruindo a gama dinâmica da música. Daí porque Shepherd lançou o Dynamic Range Day (“dia da gama dinâmica”), comemorado (não sei se é motivo de comemoração) nesta sexta-feira. Ele promete dar prêmios a engenheiros e produtores que fizerem gravações em que se possa, de fato, ouvir com perfeição desde os agudos mais impactantes aos graves mais envolventes.

Nesta entrevista ao site americano CE Pro, voltado a profissionais de áudio e vídeo, Shepherd explica suas intenções e suas queixas. Por sinal, Shepherd e Robert Archer, competente colunista do site, montaram uma boa seleção de gravações que respeitam a gama dinâmica, um dos referenciais básicos para quem gosta de boa música. Anotem:

Bjork – Biophilia, mais recente disco da cantora islandesa.

Bon Iver – Disco da banda americana do mesmo nome, que toca folk moderno.

Daft Punk – Trilha sonora do filme “Tron Legacy”.

Build a Rocket Boys! – Do Elbow, banda inglesa que faz uma espécie de rock progressivo atualizado.

Nevermind – Clássico do Nirvana, de 1991 (aquele do bebê embaixo d’água na capa).

A Treasure – Último disco de Neil Young, um dos maiores críticos da má qualidade sonora da música atual.

Wish You Were Here – Clássico do Pink Floyd (1980), que do ponto de vista técnico muitos consideram até superior a “Dark Side of the Moon”.

The Bends – Segundo Shepherd, é o melhor disco do Radiohead.

Abbey Road – Na lista não poderia faltar pelo menos um disco dos quatro de Liverpool. Shepherd encontrou aqui ótimos exemplos do bom uso da gama dinâmica.

Ah! Sim, Shepherd cita também exemplos de más gravações, como “I’m with You”, o mais recente do Red Hot Chili Peppers. “Fuja”, diz ele.

 

 

 

2 thoughts on “Abaixa essa música!

  1. Leva mal não, mas eu gosto da sonoridade deste último disco do Red Hot… Melhor do que já é, pelo próprio estilo do grupo, acaba perdendo o sal. As distorções existentes são propositais, trazendo todo o descaso e deboche esquisofrenia de algumas letras.

    Ouça por exemplo, a segunda faixa – “Factory of faith” – e diga se o som não ée pelo menos razoável na execução do baixo e bateria. Eu ouço esta mesma faixa duzentas vezes num fone AKG K514 (que a propósito não é para gravemanícaos) e adoro o resultado.

    Sem tirar o crédito do vovô, mas como é sabe que os seus ouvidos já não estão pregando peças? Fazendo simples medições em arquivos de áudio teste, cheguei a conclusão que consigo ouvir até os 19 khz. Penso em até quando vou conseguir manter isto. Tenho 35 anos. Penso que chega uma hora em que nem tudo fica tão claro assim.

    O que concordo absolutamente é que cada vez menos têm-se respeito pelo som de uma música. Talvez seja pelo fato de se ter mudado a forma como se escuta a mesma. Durante o dia vejo pessoas:

    1 – Escutando música no metrô e transportes barulhentos em geral.

    2 – Ao trabalhar utilizando o computador como fonte e caixas ou fones porcos

    3 – Ao correr

    4 – No motel na hora do vamos ver.

    E por aí vai. Fic adifícil prestar atenção naquele vocal, naquela transparência, naquela organicidade e etc…. Música é informação e julgar pelo mundo em que vivemos, há muitas e muitas informações disputando a nossa atenção. Como concentrar-se bem em apenas uma?

    Aliás, eu até consigo prestar atenção, mas sinto que estou ouvindo musica de forma mais analítica do que por prazer. Às vezes ouço apenas trechos de músicas para ouvir um determinado instrumento bem gravado, um solo, uma ambiência de um show etc. Tem sido raro os momentos em que apenas me deixo levar pela música em si. Um desses momentos foi alcançado quando escutei pela primeira vez o disco da cantora Rumer. Foi como se a Karen Carpenter tivesse ressuscitado em meu fone. Muito bom trabalho dela.

  2. Vivemos tempos em que interesse mais a quantidade que a qualidade. Assim é na gastronomia, nas artes, na qualidade da comunicação em sentido abrangente. Para a geração atual, é preferível entupir o mp3 player de música (se é que se pode chamar o que anda por aí de música) do que parar para apreciar música de qualidade, com áudio de qualidade. Aliás, nem saberia dizer se os ouvidos atuais são capazes de diferenciar uma boa gravação, pois a nova geração não tem “pistas auditivas” de experiências anteriores, acostumou-se à má qualidade de tal forma que a incorporou sem questionamentos. Diria que não se pode sentir falta do que nunca se teve antes. Hoje, a boa música, aliada a boas gravações, em bons equipamentos, virou artigo de nicho. Além de ser um hobby caro demais. Abraço.

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