A Revista IstoÉ Dinheiro sai esta semana com uma boa novidade: sua coluna sobre investimentos, assinada pelo jornalista Milton Gamez, incluirá dados (na forma de disclaimer, que é como os americanos identificam as “notas de esclarecimento” desse tipo) sobre os investimentos do próprio jornalista. A idéia é que os leitores fiquem sabendo onde o autor investe e, com isso, tenham mais transparência sobre seus comentários.

Boa iniciativa, embora não se possa dizer, infelizmente, que ela garante 100% de confiabilidade. Certas publicações chegam ao ponto de mencionar na capa coisas do tipo “pagamos todas as nossas despesas”, como se isso assegurasse a independência de seus jornalistas. Evidentemente que não assegura. Independência e isenção são qualidades que não se adquirem “por decreto”, nem com chamadas de capa. O assunto é bem mais complexo.

No segmento automobilístico, por exemplo, já se tornou rotina os fabricantes cederem carros a jornalistas, a título de “empréstimo”, ou mesmo vendê-los a preços mais baixos a profissionais da imprensa. Lançamentos de veículos são transformados em grandes festas, algumas até fora do País, para onde são levadas dezenas de jornalistas, em verdadeiros trens da alegria. Essa forma velada de comprar a simpatia daqueles que devem ter isenção ao analisar os produtos é encarada por todos (indústria e imprensa) como algo natural.

Isso, porém, não significa que todo jornalista da área é corrupto ou não merece confiança. O que pode dar essa garantia é o comportamento do jornalista (e o de sua publicação) no dia-a-dia. Isso vale tanto para grandes jornais e revistas quanto para emissoras de TV e publicações segmentadas. O leitor é que deve ficar de olho, para fazer seu próprio julgamento.

No segmento de tecnologia também há as publicações confiáveis e as… nem tanto. Há as que procuram examinar produtos e empresas com os olhos do leitor/consumidor; as que simplesmente replicam as informações passadas pelos fabricantes; e algumas até que se tornam “sócias” de determinados importadores, transformando suas páginas em verdadeiros balcões de venda.

Nesses casos, não há disclaimer nem aviso na capa que dê jeito. Estão entre as publicações que a revista Veja certa vez definiu como as “mais vendidas” do Brasil.

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