Adeus a um mito

Com o catastrófico título de “Os Últimos Dias da Telarc”, o site da revista Absolute Sound (TAS), bíblia dos audiófilos, noticia o fim de uma das poucas esperanças que ainda tínhamos de poder consumir música de qualidade bem gravada. A Concord Records decidiu fechar as portas, levando consigo a Telarc, selo que nos últimos 20 anos fez o prazer de milhares de fãs da boa música pelo mundo afora. Nada surpreendente, nesta era de coisas descartáveis, mas não deixa de provocar certa revolta.

Tenho vários discos da Telarc, alguns inclusive comprados no Brasil, e não me desfaço deles por nada. É daquelas gravadoras cujos discos se pode comprar de olhos fechados – claro, desde que você esteja em busca de música, não de barulho. Só para dar idéia de sua importância, eis alguns nomes que compuseram seu elenco até agora: Dave Brubeck, Jacques Loussier, Monty Alexander, Ray Brown, John Pizzarelli, George Shearing, Erich Kunzel, Martin Pearlman e por aí vai. Mais do que contratar bons artistas e produzir grandes discos, a Telarc criou um padrão de referência em áudio, com seus “discos de teste” que todo bom instalador deve ter em seu show-room. Como diz Harry Pierson, editor da TAS, “ninguém gravou discos tão bons nos últimos 40 anos”.

O dia oficial do “falecimento” foi 31 de março, segundo comunicado da Concord, que demitiu todas as equipes de produção e agora deve negociar seu impressionante catálogo. Diz a Absolute Sound que o mesmo está acontecendo com a Decca e a Deutsche Grammophon – acredite se quiser. “Os tempos mudaram”, resigna-se Bob Woods, co-fundador da empresa. “Caiu um martelo sobre a nossa cabeça no início de 2008, quando tivemos 55% de devoluções. As lojas não conseguiam mais vender nossos discos. A Concord vai manter o estoque e os equipamentos, mas a alma e o coração da Telarc vão embora conosco”.

Triste, muito triste.