Tempos atrás, levantei aqui a idéia de uma enquete para saber quem seria o pior ministro do governo Lula. Esse tipo de votação poderia ser feito de tempos em tempos, dando chance a um revezamento entre os vencedores. Esta semana, tivemos mais duas pérolas:

“Foi até bom que tenha acontecido. Assim, todo mundo se conscientiza da importância do ENEM para o Brasil” (Tarso Genro, ministro da Justiça, comentando a fraude que prejudicou milhões de estudantes).

“O contribuinte não será prejudicado” (Guido Mantega, ministro da Fazenda, explicando que decidiu adiar a restituição do imposto de renda).

A quem essas pessoas pensam que estão enganando? Faz lembrar o humorista José Simão, que ao comentar a Olimpíada 2016 no Rio de Janeiro disse que o Brasil vai ganhar medalha de ouro em “saltos orçamentais”. É isso: brinca-se com o dinheiro e o sofrimento das pessoas como se brinca de ocupar cargo público.

Apenas para não perder a oportunidade, cito aqui mais uma maravilha de Simão publicada esta semana na Folha de S.Paulo, a propósito da Olimpíada: “O Brasil já tem três ouros garantidos: assalto triplo, corrida de 1.500m com bolsa de turista e revezamento de celular roubado. E na festa de abertura vão estourar fogos pra avisar que chegou a droga. E os dirigentes vão jurar que nenhuma obra soi superfaturada”.

Já estamos no pódio.

7 thoughts on “Brincando de ser ministro

  1. Orlando, acompanho seu blog há alguns meses. Considero-o um dos melhores na área de tecnologia, com textos sucintos, bem escritos, com um toque de opinião muito saudável e uma gama de variedades que estão muito em linha com o que gosto de ler.

    Mas confesso que essa descrição do Brasil me causa estranheza. Moro fora do país há 3 anos, passei pela Colômbia e agora estou em Buenos Aires. Vivi na pele a realidade desses dois países e posso dizer sem constrangimento que o Brasil dá orgulho. Não só pelo carinho implícito que as palavras “brasileiro” e “Brasil” transmitem aos estrangeiros, como pela prova de força que estamos dando ao mundo. Há quem na Argentina pergunte como se abre uma conta num banco no Brasil, porque aqui o dinheiro não é seguro. Nós passávamos por isso há quase 20 anos atrás.

    Jung em sua autobiografia “Memórias, Sonhos e Reflexões” cita uma viagem que fez à África. E só lá, longe do seu universo, é que ele se deu conta de aspectos essenciais da cultura suíça, sua nacionalidade. Eu senti coisas que, estando fora, me fizeram muito feliz com o Brasil. Se puder, dá uma olhadinha no link pra saber melhor o que eu quero dizer:

    http://bratusfacmali.blogspot.com/2009/10/big-bang-brasil.html

    Não é uma crítica à sua crítica. É um apontamento de que falta o elogio.

    Grande abraço

  2. Olá Alessandro,

    Obrigado pelas palavras e também pela crítica, que julgo construtiva. Entendo seus sentimentos, já ouvi isso de outros brasileiros que residem fora do País. Mas também tenho amigos morando fora que se envergonham do Brasil; alguns, até, garantem que jamais vão querer voltar… Não dá para generalizar, certo? Estrangeiros em geral simpatizam com os brasileiros, é verdade. Como também é verdade que o País melhorou em muitos aspectos nos últimos 20 anos. Agora, nosso papel, como comunicadores, não é ficar elogiando; ao contrário, é apontar o que está errado e as possíveis soluções. Desculpe, mas não dá para ter orgulho de um país que bate recordes de corrupção, ignorância e principalmente impunidade.

    Grande abraço e boa sorte aí na Argentina.

    Orlando Barrozo

  3. Orlando, obrigado pela resposta.

    Não vejo o Brasil com recordes de corrupção. Estou no meio de um furacão argentino com a tal “ley de medios” e, ao contrário do que li em um dos comentários aqui no seu blog, a imprensa do Brasil não é nada tosca, especialmente comparada com essa baderna portenha. Ao contrário, se tanta corrupção é conhecida, é porque alguma transparência já se alcançou. E a própria idéia que vc destaca (“é apontar o que está errado”) é muito difundida em vários dos jornalistas que leio, seja em blogs seja em instituições de comunicação mais poderosas, como os grandes jornais do país.

    Não sou jornalista, mas leio jornalistas. E como cliente dos textos dos jornalistas, não acho que esteja fora das funções dos jornalistas o “ficar elogiando”. A função do jornalista, entre várias outras que me escapam, é falar sobre o que se vê, seja qual for a lente colocada. A corrupção existe, a impunidade é de fazer chorar, mas a bossa nova também existe, Caetano também existe, Drummond também existe.

    Somos um povo que celebra junto, que comemora junto. Fazemos o que os EUA não conseguem fazer: misturamos tudo e dá certo. O passaporte brasileiro, ouvi dizer certa vez, é dos mais procurados no mundo pra falsificação. Sabe por que? Porque brasileiro pode ser japonês, italiano, ruivo, negro e índio de olhos verdes.

    Acho que o Brasil não melhorou só nos últimos 20 anos. Em toda a história do país, nossa curva sempre foi ascendente. Mesmo a era dos 80, perdida em termos econômicos, foi a que gerou o início da chispa democrática. Quantos países têm capacidade de 35 anos depois de uma ditadura, eleger pra presidente um ex-operário de fábrica?

    Adoro as ironias ácidas do Diogo Mainardi e é no mínimo justo reconhecer a criatividade do Simão. Mas nunca vi, numa empresa ou na vida, que a conciliação e a solução viessem unicamente da crítica. Há que saber reconhecer virtudes, apoiar-se na abertura que o país dá, andar pelo sinuoso, estreito e existente caminho do possível: é possível o grito nesse país, é possível reclamar.

    Somos uma vergonha, mas também somos críticos. Somos corruptos e a prova do ENEM é colocada à compra, mas os jornais sabem e denunciam, e todo o país sente o peso dessa vergonha. Somos Sarneys, mas também somos Tom Jobins e fazemos aviões e exportamos aviões. Somos pobres e somos favelas, mas nem Noruega sabe tão bem como explorar petróleo no meio do mar.

    Me parece que falta ying nesse yang. Sem isso, seremos sempre só metade.

    Abraço

  4. Orlando,você está totalmente certo em suas colocações e posso dizer que faço minhas as suas palavras.Fora essas “pérolas” que você citou,hoje leio na “Folha” que o lula(molusco?) desistiu de taxar a caderneta de poupança pois isso prejudicaria seu partido nas eleições.Mais um “balão de ensaio” desnecessário que vai para o espaço.Isso é o Partido dos Trouxas(PT) agindo…

  5. Ah!Complemtando,o “companheiro” está indignado pelo Nobel da Paz ,que foi para o Obama.E o lulão que se achava merecedor único do prêmio por sua “brilhantíssima” atuação para manter a paz em Honduras…

  6. Oi Orlando, fiquei com uma grande dúvida? Este é um blog de tecnlogia, ou um blog político anti-governista? Sim, porque misturar as coisas da maneira que você faz é muito arriscado. Ou segue uma linha, ou outra. Se estiver enganado, me corrija. Mas sãoo muitos os posts que não dizem nada a respeito de tecnologia e servem apenas para criticar o governo. (também tenho muitas críticas, mas no meu espaço prefiro me prender as comidas, minha especialidade).

    abraços,

  7. Caro Fernando,

    Obrigado por perguntar. Essa questão já foi levantada por outros leitores no passado, e a resposta continua valendo: este é um blog focado em tecnologia, mas que de vez em quando se sente na obrigação de apontar alguns problemas que, como cidadão, me causam vergonha e/ou revolta. É também um espaço aberto para discutir questões que não se limitam à tecnologia, quando os leitores têm interesse nesse tipo de discussão. Desculpe se isso o incomoda, mas esta é a nossa proposta, explicitada já no primeiro post, em janeiro de 2008. Evidentemente, ninguém é obrigado a concordar com nada do que se diz aqui.

    Um abraço,

    Orlando Barrozo

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