Provavelmente uma das marcas que rende maior quantidade de buscas na internet brasileira, a Sharp planeja uma volta ao mercado. A curiosidade se refere, é claro, ao número de usuários que a empresa já teve no Brasil, muitos dos quais reclamando até hoje da não entrega de produtos comprados, de problemas com o antigo Consórcio Sharp (as pessoas adquiriam eletrônicos dessa forma, lembram-se?), dificuldades na assistência técnica etc. Aqui mesmo neste blog, recebemos regularmente mensagens nada elogiosas a essa marca – uma das mais curiosas foi a de um leitor que ainda possui um videocassete funcionando e quer saber se a empresa tem um modelo mais avançado!!!

Antes que alguém aí comece a rir, lembro que, embora o DVD já esteja no mercado há quase 15 anos, muita gente por esse Brasil afora continua usando seu velho VCR. E a Sharp não apenas foi pioneira nesse segmento, no início dos anos 80, como líder em eletrônicos no país durante um bom tempo. Os problemas começaram com a morte de seu fundador, Mathias Machline, num acidente aéreo nos EUA em 1994, e agravaram-se com a desvalorização do real em 1999, até que o grupo foi à falência, em 2004. Os herdeiros de Machline, grande empreendedor e com ótimo trânsito junto ao governo, nunca tiveram o talento e a ousadia do pai. Uma das histórias mais interessantes que já ouvi é a do início da empresa, nos anos 60. Machline era vendedor das antigas calculadoras Sharp e, em segredo, registrou a marca no Brasil; quando os japoneses tentaram entrar oficialmente no país, tiveram que negociar com ele, que assim tornou-se sócio majoritário de uma das marcas mais valiosas do mundo na época.

Bem, isso é história. Em 2008, o grupo japonês Mitsui, com imensos negócios no Brasil, associou-se à Sharp Corporation para reativar a marca aqui. Tropeçou na crise que, de novo, levou o dólar às alturas, exatamente no momento em que começava a importar os excelentes televisores Aquos. Agora, o mesmo grupo tenta relançar a Sharp, inclusive com planos de construir uma fábrica em Manaus. O Mitsui tem muito dinheiro, mas dificilmente terá sucesso se não resolver o enorme passivo que os Machline deixaram para trás: mais de US$ 1 milhão em dívidas, descrédito junto ao varejo e – talvez o pior de tudo – milhares de consumidores que juram nunca mais querer ouvir falar da marca.

Se o Mitsui conseguir superar tudo isso, terá produzido um dos maiores milagres de nossa história econômica.

3 thoughts on “Sharp prepara nova volta

  1. Em 2010, após várias pesquisas inclusive comentarios deste site, adquiri uma tv 32 lcd aquos da sharp, para minha surpresa, o som precisa melhorar muito, e o contraste das cores deixa muito a desejar embora até a presente data tem funcionado a contento.

  2. Em tempo, trabalhei 23 anos na olivetti do brasil na área comercial, se comentava muito na época tambem sobre o gaúcho Matias Machelin, que no inicio de carreira ele com boa passagem pelos politicos, vendia bateladas de máquinas de contabilidade da marca Ascota, dai que iniciou-se o seu imperio financeiro com a lucratividade nesse setor que quase não possuia concorrentes nesse setor. Um abraço

  3. Os reais problemas da Sharp do Brasil começaram no ano de 1987 por problemas com parcerias erradas de transferência de tecnologia.

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