No último dia 19 de fevereiro, Alberto Dines completou 80 anos de idade. Não foram 80 anos quaisquer. Dines, um dos mais importantes jornalistas brasileiros, viveu como poucos as últimas oito décadas – ou, pelo menos, as últimas seis, considerando sua carreira jornalística, que se mistura com a própria história do país no período.

Os jovens talvez o conheçam da televisão. Dines é mentor e apresentador do programa Observatório da Imprensa, exibido às terças-feiras pela TV Brasil, versão enxuta do site do mesmo nome, que há anos se dedica a analisar a mídia em geral, particularmente a mídia impressa. Mas ali está talvez a faceta menos instigante de Alberto Dines, ele que nunca foi homem de TV. O Dines que ajudou a mudar a história do Brasil – e, digo modestamente, a minha também – possui várias outras dimensões, impossíveis de condensar.

Mais do que jornalista, ele é um pensador da mídia, um pensador apaixonado e sagaz. Adora tanto jornal e revista que não se conforma em ver as duas mídias maltratadas, como é comum hoje em dia. Adora tanto, e com tal zelo (como diria o poeta), que se recusa a crer que ambos irão morrer, abatidos pela internet. “Já diziam isso quando surgiu a televisão”, argumenta o homem que, entre outras coisas, ajudou a criar a expressão imprensa marrom, uma forma de denunciar o jornalismo sensacionalista.

A propósito dos 80 anos de Dines, foram publicados artigos e entrevistas a seu respeito. Não tantas quantas seria justo, porque em seu trabalho cotidiano de observar e analisar a imprensa ele colecionou uma penca de inimigos. Como já comentei aqui, jornalista não gosta de ser criticado, embora faça da crítica seu ganha-pão. E Dines, mestre de centenas deles, tenta fazer o que todo professor deveria: ensina, mas depois cobra, fiscaliza e, ao fazê-lo, ensina novamente. Sua bagagem para isso é a experiência acumulada trabalhando nos jornais e revistas mais importantes dos últimos 60 anos, quando conviveu com figuras como Assis Chateaubriand, Samuel Wainer, Otavio Frias, Nelson Rodrigues, Paulo Francis, Otto Lara Rezende, Carlos Castelo Branco, Roberto Marinho, Claudio Abramo, Clarice Lispector, Adolpho Bloch, Sergio de Souza, Roberto Civita, Nahum Sirotsky, Alceu Amoroso Lima, Moisés Weltman, Millôr Fernandes, Helio Fernandes, Sergio Porto, João Calmon, Juarez Bahia, Oswaldo Peralva, Fernando Gabeira, Wilson Figueiredo, Murilo Felisberto, Antonio Callado, Armando Nogueira, Octavio Ribeiro (o “Pena Branca”), Vinicius de Morais, Joel Silveira… ufa! Aí está, quase um catálogo telefônico do jornalismo brasileiro.

Pois é, Dines aprendeu com todos eles, e em alguns casos ensinou também. E nós, que viemos depois, tivemos o privilégio de aprender com ele. O Jornal do Brasil, que Dines comandou por doze anos, o Jornal da Tarde (SP), por cerca de quinze, e a revista Realidade (por três) foram minhas principais fontes de inspiração para ser jornalista. Infelizmente, tive pouquíssimo contato com Dines, por alguns meses, na Folha de São Paulo. Mas tudo que ele escreveu ou publicou teve influência sobre o que vim a fazer.

Embora represente um tipo de jornalismo que não existe mais, Dines continua espalhando seu saber para quem quiser ouvir. Sem saudosismo, nem lamentações, apenas com observações. Todos deveríamos agradecer-lhe por isso. Continue assim, mestre!

Para conhecer melhor as ideias e o trabalho de Alberto Dines, recomendo dois de seus livros: O Papel do Jornal e a Profissão de Jornalista e Morte no Paraíso (biografia do escritor austríaco Stefan Zweig, que viveu no Brasil). E são imperdíveis os depoimentos que ele deu para o jornal da Associação Brasileira de Imprensa e para o próprio Observatório, aqui e aqui.

 

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