Há cerca de doze anos, ouvi pela primeira vez uma caixa acústica amplificada. Na época, havia polêmica – só pra variar – entre puristas e modernistas quanto à validade de se usar processamento digital interno nas caixas. A crítica mais comum era que a digitalização depreciava o sinal de áudio, num aparelho que, por definição, operava no domínio analógico. Como se sabe hoje, era um questionamento pueril – na era do CD, todo sinal de áudio é necessariamente digitalizado (e comprimido) antes de ser enviado aos alto-falantes, não importando se esse processo se dava dentro ou fora da caixa acústica.

Bem, essa é uma discussão quase filosófica, interminável, ainda que já estejamos na era “pós-CD”, com o MP3 em vias de se transformar no padrão universal para reprodução de música; está aí o revival do vinil que não me deixa mentir. Só para não perder a oportunidade: em 2008, entrevistei na Inglaterra o engenheiro John Dibb, responsável pela área de desenvolvimento da B&W (leiam aqui). Quando pensava encontrar pela frente um audiófilo empedernido, daqueles que tremem só de ouvir a palavra “MP3”, Dibb revelou-se sintonizado com as inovações tecnológicas. E disse uma frase simbólica: “Os que defendem o vinil esquecem que, na transferência do sinal da fita master para o disco, também existe uma compressão. A fita original pode ser excelente, mas o disco produzido a partir dela não.”

meridian inwall

 

 

Tudo isso serve para ilustrar a notícia de que outra fábrica inglesa tradicional, a Meridian, está lançando um novo modelo de caixa amplificada in-wall. A empresa – uma das que mais investem no conceito de caixas ativas, com sua famosa série DSP – havia lançado em 2009 o modelo DSP420, de difícil comercialização devido a suas dimensões: 35x38cm de lado e 10cm de profundidade. Já era um desafio e tanto montar num gabinete desse porte a estrutura interna de uma caixa de alto padrão, com dois drivers de 5″ e um estágio de amplificação para 85W. Agora, sai o modelo DSP520 (foto), com incríveis 2cm de profundidade e dois amplificadores – um classe AB, de 100W, para médios e agudos, e outro classe D, para graves (150W). Com 20cm de largura, não chega a ser uma caixa de grande porte para embutir no teto ou na parede, como sugere o fabricante. E, conhecendo a Meridian, pode-se concluir que esse “milagre” da física não seria colocado no mercado se não mantivesse seu altíssimo padrão de qualidade.

Não deixa de ser curioso lembrar que, até anos atrás, era sacrilégio entre audiófilos falar em caixas acústicas de embutir. Mas, como me disse Dibb, o desafio dos fabricantes hoje é oferecer conveniência e facilidade, tanto para o usuário quanto para o instalador, sem sacrificar a qualidade. O problema, a meu ver, é que isso leva anos de pesquisa e custa muito dinheiro.

Sim, o custo para o consumidor não é baixo: nos EUA, cada caixa da série 520 é vendida por aproximadamente US$ 5 mil; no Brasil, a Meridian é representada pela Som Maior e pode ser encontrada em cerca de 20 revendas em vários estados. Como sempre, especialmente no caso de caixas acústicas, e apesar de toda a conveniência, é importantíssimo ouvir (e ouvir muito) antes de comprar.

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