Parashooter_by_r0balOs americanos usam termos diferentes para designar os profissionais especializados em áudio/vídeo, automação e sistemas eletrônicos em geral. Lá, instalador é o responsável pelo trabalho de campo, aquele que “põe a mão na massa”: passa fios, monta racks, sobe no teto etc. Designer é quem faz o projeto, faz cálculos, especifica e aprova o resultado final. Aquele que faz as duas coisas – e além disso negocia com clientes e fornecedores – é geralmente chamado de integrador.

No Brasil, não sei dizer por que, esta última definição só é aplicada aos profissionais que lidam com projetos comerciais, ou corporativos, não com os especialistas em instalações residenciais. Sim, aqui é muito mais comum a figura do “faz-tudo”: vende, negocia, desenha, calcula, especifica, instala… Mais do que ninguém, esse profissional deveria, sim, ser chamado integrador, não importa o tipo ou a complexidade do projeto, residencial ou corporativo. Quase sempre, o trabalho envolve mais de uma tecnologia, quando não várias, e o desafio é saber integrá-las para que tudo funcione de acordo com o que espera o usuário final.

Quis fazer essa introdução para abordar um tema que está causando polêmica nos EUA e que pode render boas discussões por aqui também. Nos últimos meses, diz a revista Commercial Integrator, vem crescendo a insatisfação com o que está sendo chamado de “invasão dos batedores de portamalas” (trunkslammers). É dessa forma nada lisonjeira que alguns profissionais de tecnologia corporativa – incluindo alguns redatores da revista – se referem a seus colegas da área residencial. Seriam algo como “turistas acidentais” ou, como se diz no Brasil, “paraquedistas”; gente sem qualificação técnica, que ousa invadir o território dos que são verdadeiramente preparados.

Claro, há uma enorme carga de preconceito aí. E é bom dizer que já ouvi afirmações do tipo também entre profissionais brasileiros. O artigo lembra que o problema por lá se tornou mais grave com a crise, a partir de 2008, que resultou em menos projetos para todos. O pessoal do home, sem trabalho, teve que ir buscar oportunidades dentro das empresas, que assim deixaram de terceirizar certos serviços. Começaram a ser tratados como concorrentes desleais. Como se vê, lá também existe quem não goste de concorrência.

A revista conclui que o fenômeno não apenas é real, mas muito bem-vindo, pela troca de experiências que pode proporcionar. Difícil discordar, num momento em que tanto se fala em “convergência”. Mais do que nunca, as tecnologias – áudio, vídeo, automação, cabeamento, comunicação sem fio, segurança, elétrica, acústica, ar condicionado, iluminação, motores, software – estão se integrando. Cabe aos profissionais dominá-las ou, caso não consigam, recorrer a parcerias para oferecer o melhor serviço integrado (convergente). Isso vale tanto numa casa quanto num prédio ou dentro de uma empresa.

Quem escolhe trabalhar com tecnologia deve saber que, sozinho, jamais chegará a lugar algum; e que precisa estar disposto a aprender sempre, porque todo dia tem alguém ensinando a alguém. E sem preconceito, pois este só faz mal à saúde de seu portador.

2 thoughts on “Integradores vs Instaladores

  1. Orlando,

    Aqui acontece o mesmo. Nós, donos de Empresa de Áudio, Vídeo e Automação, somos os “integradores”, para os mercados Corporativos e Residencial, e sofremos com a invasão dos “instaladores”, balconistas de lojas da Santa Ifigênia ou profissionais autônomos, antes funcionários das Empresas Especializadas que acabaram fechando por causa da crise que o nosso Mercado vem sofrendo desde 2012. O problema é que esses “profissionais” não tem a menor visão da coisa como “negócio”, e para não perder a “obra”, jogam as margens de revenda e valor da M.O. no lixo. Isto é Brasil!!…já que tem muitos “Clientes” que também preferem pagar barato em um serviço “meia-boca”, já que “cachorro de 3 pernas também anda”.

    Abraço,

    Fernando Kosin

  2. Orlando:
    Já fui proprietário de uma loja de home theater. Desbravei o mercado no Vale do Paraíba, exatamente no mês em que a sua revista Home Theater começou a circular e no primeiro ano da publicação, vocês publicaram alguns anúncios nossos. Dois anos depois, não deu mais para concorrer com a concorrencia desleal dos sacoleiros que traziam eletrônicos do Paraguay, balconistas picaretas da Rua Santa Ifigênia e até eletricistas do tipo “Xá comigo que eu instalo!” . O grande problema é que a maioria da clientela quer um home theater mas não valoriza um serviço (pós venda) de qualidade. Não dão a mínima se os cabos são de primeira ou foram comprados numa loja de material elétrico, desde que o preço final seja “baratinho”! Já vi instalações feitas com cabos de camelô, as quais só foi preciso mudar a cablagem para mudar o áudio do Home theater! A grande maioria dos clientes não estão nem aí para os serviços de instalação. Já ouvi muitos clientes que me disseram que eles mesmo instalariam e que, eventualmente tinham um filho ou sobrinho “que entendia de som e faria a instalação” . Calibração e set up do conjunto? Isso ainda é grego para 99% dos consumidores, mesmo nos dias de hoje! O Brasileiro ainda quer o BBB (Bom, Bonito e Barato) e desde que ele consiga ouvir os efeitos especiais atravessando a sala, pelas caixas surround, ele não está nem aí para um serviço de integração de qualidade. Há os mais esclarecidos (infelizmente uma minoria do mercado) que valoriza um projeto bem feito, com análise acústica da sala de home, com cálculo do tempo de reverberação, modos de ressonância, um set up bem feito com decibelímetro, etc. Mas repito, é uma minoria, talvez menos de 1% do mercado. Enquanto isso, os eletricistas de bairro ou instaladores de som em automóveis, nadam de braçada desde que cobrem “baratinho”. Essa é uma triste realidade deste mercado. Pelo menos no interior (São José dos Campos, SP e adjacencias).

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