O título acima é de uma peça teatral de sucesso nos anos 60/70, escrita por Paulo Pontes, então casado com a grande Bibi Ferreira. Em plena ditadura militar, ele criou uma série de metáforas para descrever o povo brasileiro e sua eterna crença de que, se Deus quiser, tudo se arranja. Vivíamos o auge do “país do futuro”, esse mesmo futuro que até hoje não chegou.

Lembrei da peça ao ler um ótimo artigo da jornalista Eliane Brum no site brasileiro do jornal El País. Sob o título Em defesa da desesperança, ela analisa o ano de 2015, e projeta 2016, com olhos de quem embarcou na canoa furada do lulismo e hoje se arrepende. Se o brasileiro sempre acreditou, é hora de lutar mesmo sem ter mais esperanças de que as coisas mudem, ensina a autora. Se acreditou em seus políticos, tanto que os colocou no poder como aí estão, seria agora tempo de deixar que as coisas se resolvam, talvez naturalmente. Afinal, Lula e o PT eram a “última esperança”.

Quis escrever este primeiro post do ano tratando do assunto (esperança) na pretensão de me reanimar para o ano novo, já que o velho foi desanimador. E também porque, nunca tendo votado em Lula (no PT, somente uma vez), não guardo desilusões. Não vejo, portanto, motivos para aposentar a expectativa, e o desejo, de que nosso país forje um destino diferente. Ao contrário, com todos os pesares, os últimos anos revelaram algo que foi um sonho da minha geração: a força da Justiça, ainda que aos trancos.

Até 10 ou 15 anos atrás, ninguém imaginaria que um político ou empresário importante pudesse ser preso (e permanecer na cadeia). É, ainda faltam muitos, mas não custa lembrar que pessoas assim já atuavam descaradamente há décadas, séculos, e raramente foram incomodadas. E que, se antes a palavra final era dos generais, hoje temos que nos curvar a juízes. É um salto e tanto (a propósito, leiam esta carta da Associação dos Juízes Federais, divulgada no fim de semana).

Para encarar este ano, e os próximos, tomo emprestado um pensamento de Millôr Fernandes: fora do ser humano, não há salvação. Brasileiros, com ou sem esperança, mãos à obra!

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