Que tal descobrir que, enquanto você está ouvindo sua playlist, alguém está monitorando tudo? E que esse alguém identifica as músicas selecionadas? E que, com base nessa seleção, analisa sua personalidade e até suas preferências políticas e/ou sexuais? E que compartilha essas informações com outrem?
Muita neurose? Mas é exatamente disso que está sendo acusada a Bose, um dos maiores fabricantes mundiais de áudio. A ação, que está numa corte de Illinois, é de um advogado que acusa a empresa de espionar a vida dos usuários de seus fones sem fio e do aplicativo Bose Connect. O argumento é, pela enésima vez, invasão de privacidade. Os pobres adeptos do produto estariam sendo “desrespeitados em seus direitos individuais”, já que, pelos conteúdos acessados via app, a empresa teria condições de desvendar terríveis segredos.
A criatividade do suposto jurista é de fazer corar os defensores de Lula, Odebrecht e outros tantos. A certa altura, a ação lembra que “vários estudos já comprovaram a relação entre o tipo de música que se ouve e eventuais desvios de personalidade”. Além do mais, prossegue, os apps também servem para ouvir podcasts e audiolivros. Assim, se alguém tem o hábito de se ligar em sermões islâmicos seria um terrorista em potencial; se compartilha conteúdos sobre homossexualismo, pode ser alguém com Aids – intimidades que, segundo o texto, são protegidas pela constituição americana.
Bem, o caso apenas começou, e não se sabe se será aceito pela Justiça, que deve ter assuntos mais relevantes com que se preocupar (neste link, há mais detalhes). Mas pode abrir um precedente sério. Milhões de empresas hoje fazem exatamente a mesma coisa: monitorar os hábitos de seus clientes online para oferecer-lhes novos serviços. Uma delas, que talvez o tal advogado não conheça, chama-se Google.
Atualizando: logo após escrever o texto acima, encontrei reportagem da BBC Brasil sobre Chris Dancy, “o homem mais conectado do mundo”. Esse, sim, parece vítima de uma neurose digital. Vale a pena conhecer sua história (vejam aqui).