Você já viu o filme. Pessoas vão às ruas, gravam vídeos, publicam posts, cartas e até artigos defendendo ensandecidas um candidato. Depois, quando este fracassa, o que quase sempre acontece, aquelas mesmas pessoas tão empolgadas se escondem e dão de ombros, como se nada tivessem a ver com o resultado. Algumas até reaparecem na eleição seguinte, plenas de cara de pau, para apoiar outro salvador da pátria.

“Curiosamente, os eleitores não se sentem responsáveis pelo fracasso do governo em que votaram”, disse o escritor italiano Alberto Morávia. Não é, portanto, um comportamento apenas brasileiro. Mas temos nossas marcas registradas. O brilhante Eduardo Giannetti, escritor e economista, tem o diagnóstico de que não nos reconhecemos como povo. Um diz “o brasileiro é isso ou aquilo” como se fosse um alemão ou americano falando. “Mas, se todos agem assim, há algo de muito errado conosco”, critica Giannetti.

Na questão eleitoral, dizem os especialistas que o voto não é racional, e sim passional. Talvez seja por isso que, nas cinco eleições presidenciais que tivemos neste século, os brasileiros escolheram candidatos tão diferentes: duas vezes Lula, duas Dilma e por fim Bolsonaro. Sendo que, indicam as pesquisas, muitos votaram nos três!!!

Reconheçamos: pensar é difícil mesmo. Para analfabetos funcionais, aqueles que não são capazes de compreender um texto básico, deve ser um martírio. Totalmente perdoável. Mais grave é a chamada “ignorância ostentação”, consagrada nas redes sociais, em que alguém com diploma de elite profere uma barbaridade com ares de entendido. Esse aí, quando contestado, geralmente se defende não com argumentos, mas desqualificando o interlocutor. É sua única arma.

De fato, é preciso humildade e desprendimento para alguém admitir como errado algo que passou anos, às vezes a vida toda, afirmando como certo. Em mensagem por Twitter, um conhecido que até recentemente condenava com ardor a ideia do isolamento social escreveu dias atrás sobre o pai, internado numa UTI e com quadro gravíssimo, pedindo para seus contatos se cuidarem ficando em casa. Foi preciso que o vírus atingisse alguém tão próximo para o ignorante – não há outra palavra – cair na realidade.

É uma ignorância combinada com canalhice (também não encontro sinônimo publicável), pois para pessoas assim as quase 10 mil mortes já registradas não significam muita coisa. E, se o candidato em quem votou é um desastre, o tal é capaz de jurar que não teve nada com isso. E que a culpa é da mídia.

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