Na manhã de 9 de dezembro de 1980, acordei com a notícia no rádio: John Lennon havia sido assassinado na noite anterior, em frente ao edifício Dakota, em Nova York, ao lado do Central Park, onde morava com Yoko Ono e o filho Sean, de 5 anos. O choque ainda reverbera na cabeça hoje, talvez só comparável ao da morte de Elis Regina, em 19 de janeiro de 1982. Neste, saí dirigindo a esmo pela cidade sem saber que rumo tomar (eram tempos pré-celular, os amigos estavam indisponíveis naquela terça-feira). 

Mas agora, relembrando os 40 anos da morte de Lennon, vejo que uma exposição no MIS-SP traz dezenas de fotos suas produzidas por Bob Gruen, fotógrafo que acompanhou o artista nos últimos anos, quando viveu seus dias mais felizes, imaginando-se livre das pressões de ser um ex-beatle (e certamente o mais polêmico dos quatro). Gruen captou momentos de intimidade do artista, o que sempre adoça a boca dos fãs, alguns ainda inconformados com seu fim apenas aos 40 anos.

Lembro das notícias da época. Lennon decidira interromper a carreira em 1975 para cuidar de Yoko (de quem quase se separara pouco antes), ela grávida de Sean. Durante cinco anos, um dos maiores ídolos da música mundial se retirara de cena, dedicando-se a dar mamadeira, trocar fraldas e cozinhar para o bebê. No início de 1980, sentiu que era hora de voltar e compartilhar com os fãs sua fase mais suave e afetuosa.

 

Double Fantasy saiu em novembro e já tocava direto nas rádios (o “streaming” de então), especialmente a faixa inicial, (Just Like) Starting Over (ouçam) um celebração ao amor que sentia pela esposa. Naquelas semanas, John voltava ao convívio da mídia para divulgar o disco, recebendo da gravadora a recomendação de cuidar bem de sua segurança como já faziam todos os megastars. “Para quê?” teria respondido. “Sou um artista da paz. Quem vai querer matar alguém assim”? 

Pura ingenuidade! De fato, nunca um astro pop fora assassinado em plena rua, quatro tiros fatais pelas costas – o precedente mais próximo fora o de Sam Cooke, cantor soul baleado num motel em 1964, circunstâncias até hoje cheias de mistério. Cooke era grande, mas não desfrutava de um décimo da fama de Lennon. E houve Gandhi, que também lutava pela paz. Quis o destino…

As recordações daquele período vão ressurgindo conforme me dou conta de que 1980 foi um ano trágico para a música em geral (o pianista Bill Evans no jazz, o baterista John “Led Zeppelin” Bonham no rock) e para a MPB em particular: Cartola, Vinicius de Morais, Abel Ferreira (o grande clarinetista do choro), Waldir Azevedo (cavaquinho, idem). E, pensando bem, para as artes em geral: Alfred Hitchcock e Nelson Rodrigues confirmam.

Naquele ano, os obituaristas trabalharam muito.

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