Nota recente na Folha de São Paulo dava conta de uma guerra de bastidores que acontece neste momento, principalmente nos gabinetes de Brasilia, envolvendo as grandes operadoras de telecom e as gigantes da internet (o texto está aqui). Lobby pra cá, lobby pra lá, as teles querem uma lei que obrigue as big techs a lhes pagar pelo consumo de dados de seus milhões de clientes. Hoje, como se sabe, cada usuário paga pelos dados que utiliza e ponto final.

É uma polêmica antiga que, após longas discussões, acabou resultando favorável às teles em alguns países – a Coreia do Sul, por exemplo, adota essa cobrança; mas são exceções. Na Europa e América do Norte, prevalece o conceito de que as teles já cobram (muito) de seus assinantes.

Se fosse adotado o novo modelo, as empresas com mais clientes – no Brasil, atualmente são Netflix, Google e Amazon – teriam que remunerar as teles. Para usar uma imagem futebolística, seria como cobrar adicional dos times que jogam mais e conquistam mais títulos.

A questão é que há um movimento de várias empresas propondo alterações no Marco Civil da Internet, que tem como “cláusula pétrea” a neutralidade das redes. Uma operadora não pode discriminar um usuário, seja pessoa física ou jurídica. As velocidades de streaming, download e upload devem ser as mesmas para todo mundo, variando apenas os planos de dados que cada usuário escolhe.

Como cobrar uma conta que já está paga?

Com a chegada do 5G, as teles argumentam, de novo, que precisarão reduzir o fluxo de dados da Netflix para garantir que os demais usuários não sejam prejudicados. Ardilosamente, citam hospitais como possíveis vítimas. Curioso que durante o longo período de definição do 5G, quando as teles disputavam palmo a palmo as frequências, nunca foi levantada essa questão.

Seria de se perguntar como ficariam os balanços dessas empresas se uma plataforma como Netflix, Google ou Instagram, por exemplo, deixasse de funcionar no país. É evidente que todas elas se prepararam para atender a essa demanda, inclusive porque sabiam que os serviços de streaming teriam forte expansão. Como agora querer cobrar um “por fora” se a conta já está paga?

Como está na moda falar mal das big techs por seu péssimo papel na discussão das Fake News, alguns podem, apressadamente, se colocar ao lado das teles nessa disputa. Talvez seja um grave erro!

Me faz lembrar a polêmica levantada pela Telefônica, anos atrás, quando surgiram os aplicativos de chamadas, primeiro Skype e depois WhatsApp. A operadora espanhola queria proibir esses serviços alegando prejuízos com a queda das ligações telefônicas. Como as demais operadoras, aprendeu rapidinho a compensar largamente essa perda cobrando pelas redes de banda larga.

1 thought on “Teles contra big techs: a outra guerra

  1. As teles estão desligando de uma vez e sem aviso prévio telefone fixo, internet e TV! Agem como cartel e de forma complementar.

    MAM

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