Sei que é difícil aceitar, mas vamos lá. Como dizem certos influencers: com fé, foco e resiliência você consegue! Eu mesmo às vezes me pego “amarrado” ao celular, rolando a tela quase num modo automático que me faz perder a noção das horas. Ao final, geralmente a conclusão é: quanto tempo perdido, meu Deus!
Não, Deus não tem culpa se caímos na armadilha – que, por sinal, é diabólica – dos algoritmos que nos fazem rolar a tela, às vezes por horas, para ficar vendo vídeos de cachorrinhos, memes de péssimo gosto, imagens de lugares paradisíacos que na verdade não existem (são criados por IA) e por aí vai. No processo, engolimos – e quase sempre compartilhamos – fake news variadas, especialmente em época de eleições.
O que ninguém se dá conta é como reage a tudo isso nosso tão desgastado cérebro. Por ele circulam o tempo todo bilhões de neurônios – OK, em algumas pessoas são menos… É ali que acontecem as sinapses, interações entre os neurônios que carregam informações pelas diversas áreas do cérebro. Informações que vão interferir em nossas ações, sentimentos e reflexos, e que muitas vezes estão na raiz de desvios de comportamento e até de doenças neurológicas (demência, depressão, burnout).
Um hábito que se torna dependência
Claro, não sou médico. As explicações acima estão em estudos publicados por instituições como OMS, USP, Unicamp e universidades de prestígio internacional. Reportagem recente da BBC Brasil traz depoimentos de Eilish Duke, professora de Psicologia da Universidade Leeds Beckett, da Inglaterra, que há anos se dedica a estudar o impacto das novas tecnologias sobre o cérebro humano (aqui, o link).
Não é pouca coisa. Dra. Eilish compara o vício em celular às dependências de fumo, álcool e outras drogas. Conta por que tudo isso se transforma em vício e como reagir antes que seja tarde. Suas pesquisas com milhares de usuários indicam que rolar a tela do celular passou a ser algo tão automático quanto, por exemplo, fechar a porta ao sair de casa. E os aplicativos são desenhados justamente para explorar essa característica do cérebro, como confirma uma colega sua, Ariane Lang, da Universidade de Nova York. Somos atavicamente curiosos, queremos sempre saber o que está acontecendo – como quando paramos na rua ao ver um acidente.
Essa curiosidade faz parte da evolução do bicho homem. Foi ela que nos permitiu sobreviver há sei lá quantos milhares de anos; outros animais, menos curiosos ou talvez mais distraídos, acabaram extintos. Nosso cérebro também é movido por um mecanismo chamado “recompensa”: buscamos sempre algo que nos dê prazer, que é a sensação proporcionada pelos diversos tipos de vício. É o que acontece hoje com os “viciados em celular”.
Lendo isso, me lembrei da advertência do meu oculista, anos atrás: olhar muito tempo para a telinha do celular submete nossas retinas a um super esforço, na tentativa de identificar aquelas letrinhas. Acontece também com quem assiste muito televisão e quem trabalha direto no computador, inclusive por causa da radiação azul que comentamos em outro post. Mas, no celular, os efeitos são mais severos.
Como defender nosso cérebro
As redes sociais e os apps de mensagem são, sem dúvida, os maiores responsáveis por essa mudança de comportamento, pois são pensados para ativar incessantemente nossa curiosidade. O cérebro humano até possui um mecanismo de contenção, localizado no córtex pré-frontal, área que controla os raciocínios lógicos. É por isso que os jovens são as maiores vítimas de vícios em geral, que acabam levando à dependência: essa área do cérebro só termina de se desenvolver por volta dos 25 anos de idade.
Bem, não vou me estender aqui. Vejam o link. E, se você já passou dessa idade, não venha querer excluir-se do grupo. As informações acima já devem bastar para nos levar a uma reflexão sobre o poder dessa maquininha que talvez você esteja usando agora para ler este post. Aliás, o artigo também dá dicas de como lutar contra esse vícios, sendo a mais importante delas abrir a cabeça para o mundo físico, algo que interpreto como:
*sair de casa, viajar e passear sem celular, ou pelo menos sem aquela ânsia de ficar fotografado e filmando os lugares só para depois mostrar nas redes sociais;
*conter aquela necessidade de fotografar o prato do restaurante, a roupa nova ou a janelinha do avião para impressionar amigos e/ou clientes;
*reativar os contatos presenciais com pessoas queridas;
*cultivar o saudável hábito dos programas “físicos”, como ir ao teatro, parques, shows, exposições; idem, sem celular;
*e, se não for pedir muito, ler, sim, ler o máximo possível – mas não no celular, né?