A esta altura, todo mundo antenado em tecnologia já deve estar sabendo que a Inteligência Artificial é uma poderosa arma de mentiras e desinformação. Se você ainda não percebeu que aqueles vídeos compartilhados em seu grupo de WhatsApp – mostrando um político abraçado a um conhecido criminoso, ou uma criança que canta, dança e fala como adulto – são fake, é bom ligar o despertador.

É, está cada dia mais difícil distinguir verdade e mentira. Vamos ser claros: o cinema, a televisão e o mundo do entretenimento em geral sempre trabalharam com essa dualidade. Num filme, muitas vezes você não sabe se está vendo algo real ou uma alucinação do personagem. A diferença é que o filme termina e você volta a sua vida normal. Agora, estamos falando de realidade; manipulada, sim, mas absolutamente real.

Ministério da IA

Os algoritmos, esses danados, não param de aprender novas maneiras de nos enganar. Vejam, por exemplo, o que aconteceu semanas atrás na Albânia, pobre e minúsculo país do sul da Europa. Lá, o governo criou um Ministério de Compras Públicas, que foi entregue a Diella (“luz do sol”, em albanês), um avatar! Vejam o vídeo em que ela explica sua nomeação e como pretende atuar.

Anunciada como uma ministra “totalmente transparente e livre de corrupção” (a Albânia é um dos países mais corruptos da Europa), Diella (foto acima) se diz movida unicamente por dados e imune a interferências políticas. “Alguns dizem que sou inconstitucional por não ser um humano”, diz ela no vídeo. “Mas o maior perigo para as constituições nunca foram as máquinas, e sim as decisões tomadas pelos humanos que detêm o poder”.

Difícil discordar de tal argumento, embora a oposição local já conteste a figura na Justiça, acusando o governo de demagogia. Mas, se você é daqueles que acham que uma máquina como Diella iria cuidar do mundo pior do que os políticos atuais, talvez seja bom rever seus conceitos.

Um limite para os data centers

Os EUA de Donald Trump, por exemplo. Mesmo sem um “ministério IA”, por enquanto, o governo lá anunciou um plano de expandir o poder das big techs americanas com a construção de gigantescos data centers. Aliás, chegou tarde, porque a China começou a fazer isso em 2022… Como já explicamos aqui, essas instalações consomem grandes quantidades de energia e sua expansão tende a causar sérios problemas de abastecimento e de sustentabilidade.

A proposta é passar por cima de toda a legislação ambiental, inclusive leis aprovadas nos estados (que lá têm muita autonomia). E proibir contratos do governo com empresas que não sigam essas mesmas diretrizes. Para quem quiser mais detalhes, este é o link.

Estudos como este e este apontam outros problemas na multiplicação da IA Generativa, com efeitos sobre o mercado de trabalho, a segurança das cidades (e, portanto, das pessoas) e até o estado mental dos trabalhadores.

E um grande especialista brasileiro, o cientista da computação Cezar Taurion (https://www.linkedin.com/in/ctaurion/), vem trazendo ótimas reflexões sobre IA e seus impactos. Uma delas pode servir de alerta (ou consolo, dependendo de quem leia): os modelos de IA Generativa – LLMs (Large Language Models) – não conseguirão continuar crescendo no ritmo atual. Seu potencial é finito, do ponto de vista matemático, porque foram feitos para traduzir palavras e não compreender mundos.

No mesmo link, ele explica melhor. Vale muito a pena ler.

 

 

Orlando Barrozo é jornalista especializado em tecnologia desde 1982. Foi editor de publicações como VIDEO NEWS e AUDIO NEWS, além de colunista do JORNAL DA TARDE (SP). Fundou as revistas VER VIDEO, SPOT, AUDITÓRIO&CIA, BUSINESS TECH e AUDIO PLUS. Atualmente, dirige o site HT & CASA DIGITAL. Gosta também de dar seus palpites em assuntos como política, economia, esportes e artes em geral.

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