Por Willians Geminiano*
O famoso 171 tem pelo menos uma data para acontecer no Brasil, com a “conveniente conivência” de muitas empresas e consumidores, suportada pela mídia, que fatura muito com a veiculação de anúncios sobre falsas promoções sem o maior constrangimento, e também assinadas pelos profissionais das agências de publicidade –sempre premiados e considerados como os mais criativos do mundo -, e também pelos lojistas que colocam em prática peças promocionais altamente enganosas.
A Black Friday acontece nos Estados Unidos – este ano rendeu mais US$ 3 bilhões de compras online naquele país – e foi “importada”, inicialmente, pelo e-commerce brasileiro, mas o resultado é a prática abusiva e ações que enganam o consumidor com falsos descontos na maioria dos casos. Na verdade, na sexta-feira de desconto, a maioria das “ofertas” sai pela “metade do dobro do preço”. Se nos EUA ela acontece no Dia de Ação de Graças, aqui podemos chamar a versão brasileira de “Black Friday do Peru”, mas que deve ter gerado perto de R$ 180 milhões, segundo algumas estimativas divulgadas na imprensa.
Na edição 2013 brasileira da Black Friday, ocorrida no dia 29 de novembro, pôde-se ver de tudo um pouco: desde bons descontos a falsas promoções em uma mesma loja de comércio eletrônico, por exemplo. Também foi possível encontrar na mesma vitrine virtual o mesmo produto sendo oferecido com dois preços na mesma página: com e sem desconto. Se o consumidor comprou pelo preço sem oferta, e ao perceber o engano ele tem direito à devolução do dinheiro. Isso se ele teve tempo de fazer um screenshot – fotografia da páginas com os dois valores.
Este caso de duplicidade de preços é uma demonstração que e-commerce brasileiro não está preparado e capacitado para uma campanha deste tipo, com sistemas de lojas virtuais altamente defasados. O desenvolvedor que souber resolver este problema e oferecer criar sistemas eficientes de lojas virtuais para este tipo de ação, poderá ter uma vantagem altamente competitiva. Por sua vez, ao veicular um produto com dois preços, ou o dono da loja, o pessoal das áreas de marketing, comunicação e TI foram incapazes de se prepararem para a Black Friday, ou deixaram as coisas acontecem para ver se alguém reclama.
Mais: duas das maiores lojas de e-commerce brasileiro estiveram por vários minutos fora do ar durante todo o dia. Não se prepararam para colocar suas lojas em data centers que garantissem alta disponibilidade, mesmo tendo conhecimento de exemplos anteriores de sites que caíram porque não suportaram a elevada carga de acessos em campanhas deste tipo. Neste caso não dá para acusa-los de mal intencionados. Mas de despreparados sim, com certeza muita gente poderá entrar nesta classificação. Enquanto a Black Friday acontecia, nas redes sociais foi possível ver os consumidores comentando sobre o que viram e puderam também denunciar muitas lojas que maquiaram suas ofertas, aumentando o valor do produto para depois dar o tal desconto.
O mesmo abuso das empresas que atuam neste tipo de estelionato já havia sido denunciado na edição do ano passado da Black Friday. E como a coisa é muito mal feita e executada, há relatos de produtos cujos preços do produto com desconto ter sido maior que o dia anterior. Sem desejar ser legalista, porque muitas vezes a lei, ora lei, o estelionado é definido pelo Código Civil brasileiro como “crime econômico (Título II, Capítulo VI, Artigo 171), sendo classificado como ação efetivada para “obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento”.
O bom da Black Friday é que existem as redes sociais como verdadeira mídia espontânea das massas para relatar os casos onde os descontos são reais ou não. Sites especializados em registrar reclamações dos consumidores contabilizam mais de 10 reclamações contra lojas que veicularam em suas vitrines – virtuais ou em lojas físicas – promoções falsas.
E dai? Boa pergunta. Como tudo é encenação nesta vida e muita gente ganha com isso, lucra quem vende, os que conseguiram descontos, o governo que vai coletar impostos sobre as vendas neste dia, as pessoas das agências e das lojas que poderão manter seus empregos por mais algum tempo. E os jornalistas, que têm assunto para gastar seus dedos para escrever sobre ela. E muitas lojas depois da Black Friday comemoram a semana com uma tal de Cyber Monday.
* Willians Geminiano é Editor da FonteMidia Americas. Texto publicado originalmente no site Convergência Digital.