Dinheiro, prá quê dinheiro?

Por Pedro Costa*

Para o quinto website mais visitado do mundo, a Wikipedia, enciclopédia colaborativa que busca reunir todos os conhecimentos do ser humano, dinheiro não é tudo na vida. Seu fundador, Jimmy Wales, um ex-trader de ações de Chicago, bem que tentou atrair patrocinadores no início da operação, mas foi rechaçado pelos hoje milhares de colaboradores que nutrem cerca de 12 milhões de páginas sobre tudo – ou quase tudo – que existe na Terra, em mais de 250 línguas. Por que?

A verdade é que a Wikipedia não é apenas resultado de um sonho coletivo de conhecimentos livres para nós, terráqueos, mas é também uma amostra do movimento que nasce neste terceiro milênio: sem chefes ou empregados, sem prédios ou telefones, mas onipresente 24 horas por dia, 7 dias por semana, onde o cliente é o centro do universo e a mercadoria não é propriedade de um único dono.

Só tem um probleminha. Sem dinheiro, como essa conta fecha? Esta é a pergunta que não quer calar. Todos os projetos em volta desta nunca vista base de conhecimento, que inclui o Wikibooks, Wikiquote ou Wikinews, são sustentados por uma fundação, a Wikimedia Foundation , que está em San Francisco, mas que por motivos de segurança pouca gente sabe onde. A Fundação recebe doações que dão para pagar a infraestrutura de rede e seus 25 funcionários, mas está pesquisando formas de rentabilizar a base de dados com projetos empresariais.

Esse mergulho no mercado é feito com extrema discrição e ética, mas o objetivo da organização é um mundo onde qualquer pessoa terá livre acesso à soma do conhecimento humano. O dinheiro, assim, tornou-se uma barreira que foi transposta com trabalho colaborativo e voluntário.

No documentário Join Us , da TV Ideal, do Grupo Abril, a Wikipedia é mostrada como o centro do mundo colaborativo, que só surgiu com o advento da internet. Andrew Lih, um ex-funcionário da organização que acaba de lançar o livro “The Wikipedia Revolution “, explica seu sucesso como um “resultado natural” das forças do mercado. “O website tornou-se um fenômeno instantâneo por causa da oferta e demanda – conteúdo equilibrado e confiável é uma commodity rara, e com alta demanda”, diz ele.

E mais: “A Internet tem gente ansiosa para dividir conhecimentos profundos sobre qualquer coisa, mas até então esse povo estava disperso geográfica e logisticamente – a Wikipedia simplesmente apareceu como um espaço para abrigar todo esse conhecimento”.

Pouca gente fala, no entanto, de outro fenômeno: a Wikipedia, reunindo conhecimento de forma prática e ágil, está tomando o lugar dos jornais. O jornalista Jonathan Dee, do The New York Times, comentou o fato de que o site não é apenas uma enciclopédia online, mas também fonte de notícias sempre atualizada. Já tornou-se lenda o fato de que a Wikipedia furou a mídia tradicional dando em primeira mão a notícia de morte de gente famosa, como o apresentador da NBC Tim Russell, que sofreu um ataque de coração fulminante.

Quem está contra a Wikipedia? Algumas pessoas que criticam certas distorções ou mentiras em determinadas páginas – como o fato da cantora Britney Spears ter o mesmo espaço que o filósofo Sócrates, ou muitos professores que identificam pesquisas e deveres-de-casa dos estudantes copiados literalmente do site, sem nenhuma outra fonte. Mesmo a cópia sendo permitida pela licença da enciclopédia, a própria comunidade não aconselha essa atitude, pois eles não consideram a Wikipedia como fonte primária.

Quando a revista Time elegeu VOCÊ como a “pessoa do ano” em 2006, citou o sucesso da colaboração online e a interação de milhões de pessoas ao redor do mundo. É o que a Wikipedia representa.

Pedro A. L. Costa dirige The Information Company nos Estados Unidos

* Artigo publicado originalmente no site InvestNews (20/03/09)