Emissoras competem pela TV no celular

Por Alana Semuels*

A transição digital marcou o fim de uma era, mas as emissoras de televisão e os fabricantes de equipamentos esperam que marque também o início de outra. Esta é a sua visão de futuro: um mundo em que todos possamos assistir televisão ao vivo não apenas nas telas grandes de nossas salas, mas também em celulares, computadores e nos painéis dos automóveis.

Desde junho de 2009, quando as transmissões analógicas foram interrompidas, vem se acirrando a concorrência entre as emissoras americanas para oferecer seriados e védeos musicais aos usuários de telefones. Mas tanto as emissoras quanto as operadoras telefônicas sonham transformar esses conteúdos num hábito. “Esta é apenas umas das sete ou oito coisas que as pessoas vão fazer com seus celulares”, diz Rob Hyatt, diretor de conteúdos da operadora AT&T.

Segundo a empresa de pesquisas Nielsen, em 2009 aumentou em 50% o número de assinantes de celular que passaram a assistir vídeos. A aposta das empresas é que essa tendência irá se acentuar daqui por diante. O que ainda não está claro é qual tipo de serviço será o preferido dos usuários, entre os vários disponíveis. A Qualcomm, por exemplo, espera que seja o FloTV, no qual vem investindo desde 2003. As emissoras querem incentivar o uso do serviço oferecido pela Open Mobile Video Coalition (OMVC),grupo que representa mais de 28 grandes redes e envia sinal de estações locais para celulares, netbooks e até players portáteis do tipo MP4 equipados com receptor de TV.

Há ainda o serviço MobiTV, que fornece video on-demand e programas de TV ao vivo através de redes de banda larga, e não de redes de TV. “As pessoas estão cada vez mais em movimento e precisam de satisfação imediata”, diz o presidente da FloTV, Bill Stone.

Consumidores mais jovens, mais acostumados a ver televisão em celulares, tendem a preferir programas on-demand – vídeos que podem ser assistidos no horário escolhido pelo usuário – em vez da programação regular, explica Lewis Ward, pesquisador da IDC. Ele acha difícil superar o serviço oferecido pelas empresas da OVMC, com transmissões locais gratuitas. Prova disso é que a Qualcomm já tem seu “plano B”: oferecer o serviço FloTV para ser captado automóveis e aparelhos portáteis que operem de forma independente das operadoras. No caso, os receptores exigem a instalação de um chip no DVD player do carro ou no telefone.

Stone reconhece que pode ter sido prematuro lançar o FloTV antes que esse chip esteja disponível num número suficiente de receptores, mas diz que isso pode ser uma vantagem. “Hoje, somos ´a´ rede móvel de TV nos EUA. Se alguém quiser construir uma rede para competir conosco, irá levar um bom tempo”.

Mas os concorrentes não precisam necessariamente construir uma rede igual. A OMVC precisa pagar apenas 50 a 100 mil dólares por estação, para instalar transmissores móveis e enviar sinais de televisão a celulares, diz Anne Schelle, diretora executiva da coalizão. As emissoras levam vantagem por não precisarem comprar espectro de freqüências, e também porque não precisam adquirir novos programas e conteúdos.

Outro argumento em favor da OVMC é que fabricantes como a LG estão adorando produzir aparelhos que captem esse sinal. “Dá para transformar qualquer aparelho de vídeo num televisor”, empolga-se Schelle.

O serviço MobiTV opera sobre uma rede de celular e pode ser captado na maioria dos aparelhos, sem necessidade de um chip especial. Não é tão rápido quanto o FloTV, mas a tendência é aumentar a velocidade de acesso conforme as redes forem migrando para 3G e, no futuro, 4G. É o que diz Paul Scanlan, presidente da empresa, que diz já ter 7 milhões de assinantes. O MobiTV está disponível, por exemplo, para usuários da Sprint, que podem usá-lo sem limite de dados, texto ou voz.

Nos EUA, os consumidores podem acessar TV móvel também pelo serviço da Transpera, empresa que fornece a plataforma de celular para redes como CBS e MTV. Os vídeos vêm com anúncios e, portanto, o usuário não precisa pagar por eles. Não são ao vivo, mas o fundador da empresa, Frank Barbieri, garante que os vídeos são colocados na rede imediatamente após serem exibidos pelas emissoras.

Barbieri diz que a rede da Transpera vem crescendo em média 200% a cada trimestre. “O FloTV vai acabar como um dos maiores fracassos empresariais da primeira década do século 21”, prevê ele.

Apesar desse pessimismo, analistas de mercado concordam que, de uma maneira ou de outra, todos nós iremos assistir a muito mais televisão no celular daqui por diante. Nos próximos três anos, esse será o grande negócio da indústria de entretenimento, calcula Terry Denson, vice-presidente da Verizon, maior operadora de celular dos EUA. Essa previsão pode parecer exagerada, mas devemos lembrar que ela combina duas coisas que os americanos adoram: celular e televisão. “A TV ainda é o grande passatempo deste país”, diz Scanlan.

*Artigo publicado no Los Angeles Times em 09/06/09