Por James Rivington*
A rivalidade entre as gigantes coreanas LG e Samsung é bem conhecida, mas foi necessária uma visita à sede da LG para perceber com mais clareza a verdadeira natureza desse conflito. Ambas baseadas em Seul, as duas companhias vêm competindo há quase 50 anos, e de certa forma são obcecadas uma com a outra.
Já lemos muitas histórias sobre roubo de segredos industriais, trocas de acusações, processos na Justiça. Recentemente, a polícia invadiu algumas instalações da Samsung à procura de provas de espionagem, após acusações lançadas pela LG. É comum entre elas. É uma situação tão extrema que passar pelos edifícios de uma dessas empresas é como atravessar a área de segurança de um aeroporto. Malas são revistadas, câmeras confiscadas, lentes dos celulares são cobertas. Não são permitidos pen-drives ou HDs com USB. Câmeras de segurança estão por toda parte.
A entrada dos prédios é cheia de detectores de metais e scanners. Mas, ao contrário de um aeroporto, você não precisa se preocupar quando entra, apenas quando sai. É nesse momento que as rígidas normas de segurança são aplicadas. Querem ter certeza de que você não está roubando nenhum segredo. Como visitante, nos vem uma fascinante curiosidade. Para quem trabalha ali, é uma rotina diária.
Estamos agora num ônibus, viajando para o norte do país, próximo à fronteira com a Coreia do Norte. É ali que fica a enorma fábrica de LCDs da LG. Vamos fazer uma visita e já fomos avisados de que lá as medidas de segurança são ainda mais restritivas. Nada disso, porém, é surpresa. As duas empresas são líderes em inovação e vêm lançando produtos similares ao mesmo tempo. Pergunta: quem foi que lançou primeiro um TV OLED? Ambas, naturalmente.
Esses aparelhos foram vistos primeiro na Best Shop, megastore que a LG mantém no centro de Seul. Que, curiosamente, fica em frente a uma superstore Samsung, do mesmo tamanho. Mas, para o povo da Coreia do Sul, essa rivalidade vai muito além da tecnologia. É um estilo de vida. E para muitas das cerca de 200 mil pessoas que trabalham nas duas empresas, trata-se de uma fidelidade que vai durar a vida inteira.
Ao contrário de muitos conglomerados europeus ou americanos, as grandes empresas sul-coreanas sentem-se responsáveis pela economia do país. Como parte desse esforço, contratam muitos estagiários todos os anos para treinamento, e a maioria desses homens e mulheres nunca mais trabalham para outra empresa. Esse processo de contratação é difícil: tanto LG quanto Samsung querem os melhores profissionais, mas há uma falta de talentos na Coreia. Por isso, a disputa entre as empresas é feroz.
O relacionamento entre as duas marcas, no entanto, vai muito além da mera rivalidade. Ambas são obcecadas e se rejeitam na mesma medida. Em nossa viagem, a Samsung foi mencionada muitas vezes pelos guias da LG, e não de forma depreciativa – fica claro que a LG tem muito respeito por aquilo que a Samsung conseguiu nos últimos anos. Mas, ao mesmo tempo, quando se trata de recrutar trabalhadores, não é uma relação de amor.
As duas marcas coreanas também possuem seus territórios sociais, inclusive fora do país. Restaurantes, hotéis e bares se dividem: empregados da Samsung sabem que não devem frequentar certos lugares, e o mesmo vale para os da LG – eles não se misturam socialmente. É mais ou menos como as torcidas de futebol ocidentais. E vale também nos grandes eventos internacionais de tecnologia; existem regras não escritas sobre quais restaurantes coreanos se pode frequentar em Las Vegas (durante a CES) e em Berlim (para a IFA), dependendo de qual empresa você representa. Cada um olha para o outro com desconfiança.
É natural, portanto, que LG e Samsung tenham seus respectivos times de beisebol e futebol na Coreia, que servem para promover as marcas. Funcionários de cada empresa pode conseguir ingressos para os jogos, e os clássicos entre as equipes são os mais procurados. Da próxima vez que você for a Seul, talvez queira visitar o estádio de beisebol Jamsil, para ver os LG Twins, ou a cidade de Suwon, onde foram realizados jogos da Copa de 2002, para assistir a um jogo do Samsung Bluewings.
*Artigo publicado originalmente no site TechRadar; clique aqui para ler o original na íntegra.