Por Marcelo Coutinho*
O Comitê Gestor da Internet acaba de divulgar sua pesquisa sobre o uso da rede nos domicílios brasileiros em 2008, com uma amostra válida para todo o território nacional, realizada no final do ano passado. Os números mostram que, após a explosão do acesso verificada entre 2005 e 2007, estamos entrando em uma fase de amadurecimento, na qual a utilização se torna mais intensa e diversificada.
Comparado os resultados em áreas urbanas (este é o primeiro ano em que a pesquisa possibilita uma análise separada entre área urbana e rural), o percentual da população usando a rede passou de 34% em 2007 para 38% em 2008 (eram 24% em 2005). Em termos absolutos, são cerca de 55 milhões de pessoas.
Já a intensidade de uso (sempre comparando somente as áreas urbanas) cresceu bastante. No ano passado, 54% dos usuários afirmaram utilizar a rede diariamente (fazendo as contas em relação ao número total da população, isso significa que cerca de 20% dos brasileiros usam a Internet todo dia). Mais importante, em 2008, apenas 6% dos usuários usavam a rede menos de uma hora por semana, contra 18% em 2007. Os que usam entre uma e cinco horas por semana passaram de 43% (2007) para 54% (2008).
E quanto mais alta a classe social ou a renda, mais intenso o uso: nas classes A/B o percentual de usuários que navegam mais de 20 horas por semana já passou de 25%. Esses números comprovam algo que podemos constatar empiricamente: o uso da Web é um caminho sem volta. Vencida a barreira do primeiro contato, a tendência é uma incorporação crescente nos hábitos cotidianos.
A pesquisa também mostra a consolidação do acesso em Lan Houses, verificado já em 2007, mas com um dado adicional: quando perguntados qual o local de acesso mais freqüente (questão que não existia anteriormente), 35% dos entrevistados responderam as lan houses (ou cybercafés), número praticamente igual ao do acesso doméstico (36%) e que supera de longe o local de trabalho (14%). Como já mencionamos anteriormente nesta coluna, esta modalidade de acesso pode se constituir em um importante canal de distribuição/comunicação para empresas interessadas em atingir os consumidores C/D/E (nesta faixa, o uso das lans e cybercafés supera todas as outras modalidades combinadas).
Idade, mídia tradicional e web
Em termos de distribuição do uso, as tecnologias da Web 2.0 seguem em alta. O número de usuários de sites de relacionamento passou de 64% (2007) para 69% (2008); já os blogueiros passaram de 13% para 17%, bem como aumentaram os participantes em fóruns e listas de discussão. Mas aqui existe uma diferença social importante: as classes mais populares tendem a utilizar os sites de relacionamento com mais intensidade que as classes A/B (já estes são mais ativos na blogosfera e nos fóruns (praticamente o dobro de participação). Aliás, a comparação do blog com o antigo “diário íntimo” das adolescentes perdeu completamente o sentido: 10% dos usuários entre 10 e 15 anos mantêm um blog, contra 19% dos adultos entre 35 e 44 anos (será a crise da meia idade?).
Já a fusão entre a mídia tradicional e a Web segue em ritmo intenso. Entre os pesquisados, 47% afirmam ler jornais e revistas, sendo que entre os jovens adultos de 25 a 34 anos (justamente o público no qual as publicações impressas estão encontrando maiores dificuldades), este número atinge 58%.
Como notei no meu primeiro artigo para esta coluna, no início de 2006, é hora de parar as máquinas e acelerar os servidores… E já que estamos falando de negócios, 44% dos usuários afirmam jogar on-line. O interessante é que tirando uma diferença mais pronunciada em termos de faixas etárias (com os mais novos apresentando uma utilização muito mais intensa), esse número é relativamente homogêneo em termos de renda e classe social. Parece que os games on-line vão se transformando em um “conteúdo” de interesse generalizado para os internautas –uma boa oportunidade para marcas que buscam realizar ações mais institucionais.
A pesquisa também mostrou que daqui por diante, o desafio é conectar a população de baixa renda nas periferias das grandes cidades e boa parcela dos moradores em áreas rurais. Um grupo que dificilmente será incluído pelo mercado, mas que não pode ficar de fora da revolução trazida pelas tecnologias digitais. O fim da “fase fácil” da inclusão digital é um tema que precisa estar na agenda política, neste momento em que os candidatos as eleições de 2010 começam a ensaiar seus primeiros passos, de olho no que a Web 2.0 fez por Barack Obama nos EUA. Será uma longa batalha.
*Marcelo Coutinho é diretor-executivo do IBOPE Inteligência e professor da Fundação Cásper Líbero. Texto extraído do IDG Now. Publicado em 27/03/09.