Os curadores dos novos conteúdos de vídeo

Por Mark Chisholm*

Nos últimos anos, os consumidores ganharam novos poderes para controlar os conteúdos de vídeo que consomem. Com a introdução do videocassete, em 1975, nasceu uma nova indústria – a do entretenimento doméstico. Anos depois, em 1999, com o serviço TiVo, a gravação de conteúdos adquiriu nova dinâmica, com a possibilidade de programar os horários e até “pausar” transmissões de TV ao vivo.

Hoje, com a proliferação das redes de banda larga, das transmissões sem fio e do uso de smartphones e tablets, os consumidores se tornaram curadores de seu entretenimento. O conceito “curadoria de conteúdo” envolve buscar, descobrir e assistir aquilo que se deseja no local e hora mais apropriados, selecionando o que é mais relevante. Teve início a era dos conteúdos de vídeo.

Com a evolução das mídias, as grandes redes de televisão começaram a ser ameaçadas pelas operadoras de cabo e satélite. Mais recentemente, estas também passaram a sofrer a ameaça dos serviços de vídeo via IP. Esses serviços – sejam eles pagos ou gratuitos – criam alternativas aos modelos de negócio tradicionais da indústria de entretenimento.

Da mesma maneira que a Apple, com o iTunes, preencheu um vazio que existia no mercado de música (ao permitir que o usuário a compra legal de canções em formato digital), os atuais serviços de vídeo tentam aproveitar a velocidade da banda larga para conquistar o consumidor. Só que, no caso da música, um único aparelho – o iPod – era usado; agora, há uma infinidade deles, inclusive os próprios televisores conectados à internet.

Um ótimo exemplo está na nova geração de consoles de videogame. Percebendo que muitas residências têm banda larga conectada aos TVs, os fabricantes de games agiram rapidamente para acrescentar aos seus consoles acesso aos serviços de vídeo. Além disso, criaram suas próprias plataformas, onde os usuários podem comprar ou alugar conteúdos de vídeo.

E tudo indica que essas empresas – especialmente Microsoft, Sony e Nintendo – pretendem ir além. O pioneirismo da Netflix ao criar suas próprias séries, como House of Cards e Orange is the New Black – é um bom incentivo. A Microsoft, por exemplo, já anunciou que o jogo Halo será adaptado para uma série de TV produzida por Steven Spielberg, a ser distribuída aos proprietários do console Xbox One.

Uma recente pesquisa da CEA revelou que 51% dos usuários de banda larga passaram a usar os serviços de vídeo por IP, sem abandonar as mídias tradicionais, como redes abertas e TV por assinatura. Fica claro que os consumidores procuram tirar vantagem das novas ofertas como “complemento” às antigas. Será que, no futuro, essas novas fontes de conteúdo irão substituir as convencionais? Quem sabe?

Curioso é que a pesquisa também indicou a preferência da maioria dos usuários (70%) pela programação ao vivo, um conteúdo típico das mídias tradicionais. Ao serem perguntados o que valorizam mais nos serviços disponíveis, 67% responderam “variedade de programas e canais” e 43% disseram simplesmente “esportes”. Nos EUA, as principais ligas de esporte já oferecem pacotes para os torcedores, que podem assistir a eventos ao vivo pela internet.

*Editor-assistente da revista Vision, publicada pela CEA (Consumer Electronics Association)