Por Jim McGregor*
Com o setor de tecnologia tornando-se cada vez mais importante neste momento de recuperação da economia, e o interesse crescente dos consumidores pelos aparelhos eletrônicos, parece complicado sobreviver para quem trabalha no setor de áudio high-end. Mas muitas empresas desse segmento, nos EUA, continuam insistindo nesse objetivo – com uma visão de longo prazo. Vamos considerar algumas características básicas do mercado high-tech:
*A necessidade de integração continua, em todos os níveis de negócio, da fabricação de semicondutores à instalação de sistemas. Assim como houve a integração entre tipos diferentes de chips para permitir a criação dos PDAs e dos telefones celulares, também acontecerá a convergência entre as unidades de processamento gráfico (GPU) e os dispositivos de navegação pessoal (PND), respectivamente.
*A concorrência, a inovação e as expectativas dos consumidores continuarão forçando para baixo os preços de todos os itens, das placas de memória aos TVs de alta definição.
Agora, vamos combinar essas características com novas tendências de mercado, como:
*Os modelos de negócio devem continuar evoluindo no sentido da competitividade, refletindo as mudanças do mercado, e procurando atender aos desejos do consumidor e levando em conta sua capacidade de compra. Entre esses modelos inclui-se a cobrança por serviços como propaganda, conectividade, conteúdo, aplicativos e intensidade de uso. Todos têm bom potencial, mas as perspectivas de cada um desses modelos podem se alterar rapidamente.
*Aparelhos eletrônicos pode exceder as necessidades e/ou expectativas dos usuários. Há alguns exemplos surgindo, embora sejam raros devido às constantes inovações. A maioria dos consumidores não irá exigir de um computador, por exemplo, performance superior à que se tem hoje com um modelo quad-core, ou mesmo dual-core. Só irão fazê-lo quando suas rotinas diárias atingirem o limite desses processadores, mas isso demora anos para acontecer. O consumidor não entende muitos aspectos do áudio high-end ou do vídeo de alta definição, que vão além da performance prática.
*Quanto mais a tecnologia se torna personalizada, mais o mercado se fragmenta em novos pedaços.
*Tanto as empresas quanto os usuários finais estão se voltando para soluções e serviços remotos.
*Influências políticas – como o acesso ao espectro de freqüências, o gerenciamento das grandes redes e a questão da neutralidade na internet – têm hoje maior impacto sobre a indústria de tecnologia.
Essas tendências recentes dão suporte às tendências tradicionais, e ao mesmo tempo determinam as ondas de consolidação horizontal e integração vertical nas empresas. Mas consolidação e integração não garantem, sozinhas, o sucesso no longo prazo, quando aparelhos, aplicativos, conteúdos e modelos de negócio estão mudando continuamente.
Isso explica porque os líderes da indústria de tecnologia continuam de olho em alternativas para o futuro, em vez de se concentrar em suas competências atuais. A Intel, por exemplo, está expandindo sua atuação para a área de telefonia celular; Oracle, HP e Cisco tentam tornar-se gigantes em software, sistemas e serviços; Google e Microsoft procuram controlar a internet e tudo que está relacionado a ela. Será que essas estratégias darão certo?
A História ensina que sempre há ótimas oportunidades em momentos de mudança, e aqueles que sabem tirar proveito dessas transformações geralmente tornam-se líderes de mercado. No entanto, a indústria de tecnologia está em permanente estado de mudança, e é comum as empresas menores (e mais inovadoras) emergirem como as grandes beneficiárias desses processos. Pelo menos até que sejam engolidas pelas maiores.
Outras perguntas interessantes: mesmo que sejam bem sucedidas, de quem exatamente essas empresas irão cobrar pelos seus serviços? Será que terão lucro? O que acontecerá se Oracle, HP e Cisco não puderem cobrar por uma ou mais partes de seus modelos de negócio? Da mesma maneira, as operadoras e provedoras atualmente cobram pela cessão de seus aparelhos, pela manutenção de seus serviços e até pelo fornecimento de conteúdo, já que não conseguem se manter apenas com publicidade. O que ocorrerá se perderem uma ou mais dessas fontes de receita?
Hoje, mais do que nunca, as mudanças no mercado podem ter sobre as empresas de tecnologia um impacto tão grande quanto a concorrência e a integração tiveram no passado. Mas os vencedores ainda precisam ser capazes de investir em soluções para o futuro. Enquanto isso, têm que extrair lucros de fontes variadas, se quiserem sobreviver à próxima mudança.
Tudo isso que estou dizendo pode não servir para identificar quem irá ganhar ou quem irá perder nesse negócio. Mas espero que contribua para abrir os olhos de todos aos desafios que o próprio setor de tecnologia está criando, e para os que ainda irá encontrar logo à frente. Como a internet continua demonstrando, lucros não estão garantidos para todo mundo, e cada vez será mais difícil manter as margens de rentabilidade. Mas o certo é que aqueles que souberem se adaptar às transformações do mercado usando soluções completas têm mais chance de estar à frente na corrida high-tech.
*O autor é pesquisador da empresa de estudos de mercado InStat, dos EUA.