Por Paul Gray*
Até agora, os televisores têm evoluído num ritmo completamente diferente do que previa a Lei de Moore, segundo a qual o número de transistores num determinado circuito integrado dobraria a cada ano e, com isso, dobraria também a capacidade dos computadores. Os TVs se mantiveram fora dessa tendência por várias razões. Uma delas é que os recursos dos televisores são diretamente relacionados aos padrões de transmissão, que se desenvolvem num ritmo bem mais lento. Afinal, mudanças nas emissoras exigem reconstrução de estúdios, troca de transmissores, lançamento de satélites etc.
O setor começou a andar mais rápido quando os circuitos dos TVs passaram a ser totalmente digitais. A Lei de Moore – criada pelo engenheiro Gordon Moore, co-fundador da Intel – se baseava na integração de funções num único circuito integrado de TV, mas por volta de 2010 essa teoria já estava completamente superada. Como as exigências das emissoras não se alteravam, as inovações nos TVs acabaram se voltando para as áreas de interatividade e acesso à internet. Ou seja, para o que se convencionou chamar de Smart TVs.
Esses aparelhos trouxeram a convergência de funções entre TVs, tablets e smartphones. Podem decodificar e exibir vídeo em formato H.264, navegador HTML para internet e também codificar áudio e vídeo. Um TV de alto padrão chega a ser, na verdade, um smartphone de tela grande! O resultado é que alguns TVs atuais possuem processadores com dois e até quatro núcleos.
Mas ocorre uma “colisão” quando se pensa na vida útil desses aparelhos. Um TV dura entre seis e oito anos, segundo nosso estudo TV Replacement; um celular (pelo menos os que permanecem com seu primeiro dono) têm uma vida em torno de dois anos. Portanto, as pessoas mantêm seus telefones num único ciclo da Lei de Moore, enquanto dos TVs espera-se que durem vários ciclos. Os recursos dos TVs normalmente ficam defasados rapidamente. Embora as atualizações sejam possíveis, a obsolescência das memórias e das CPUs acabam limitando sua vida útil.
Hoje, há a possibilidade de fazer atualizações nos TVs através de conversores do tipo set-top box ou até pen-drives, que não requerem um controle remoto adicional e podem ser alimentados pelo próprio TV. A Samsung, por exemplo, já prometeu colocar em breve no mercado kits de atualização chamados Evolution Kits, para seus TVs top de linha. No entanto, o fato de que esses dispositivos atuam de modo independente em relação ao processador do TV (há até uma entrada Ethernet própria para eles) mostra como é difícil modernizar até mesmo um produto tão recente.
Para os fabricantes, existem hoje três alternativas:
*Continuar agindo da mesma forma e esperar que os consumidores não se incomodem com a rápida obsolescência (e vida útil cada vez mais curta) dos smart TVs;
*Desistir e continuar fazendo o processamento fora do televisor, que então se transformaria num simples monitor de imagens;
*Repensar a partição do sistema e procurar um meio de maximizar a performance dos TVs, ao mesmo tempo isolando elementos instáveis e de evolução muito rápida.
Alguns podem achar que a primeira opção já está sendo colocada em prática na China e no Japão, enquanto a segunda parece existir na América do Norte, principalmente porque a televisão nos EUA é totalmente ligada aos receptores de TV paga. A terceira alternativa exigiria transformar o TV numa espécie de docking-station. O segmento de áudio tem enfrentado sérias dificuldades nos últimos anos, por ter inicialmente tentado enfrentar os players MP3 com sistemas baseados em CD, que foram se tornando cada vez mais irrelevantes. Entretanto, primeiro com os docks para iPod e depois com os conjuntos de áudio sem fio (Bluetooth), essa categoria de produto conseguiu se manter graças aos aparelhos de uso pessoal. Embora jamais vá retornar aos tempos de glória dos anos 1970 e 1980, o áudio Hi-Fi está voltando! Uma visita a qualquer feira internacional de tecnologia dá uma amostra da grande variedade de equipamentos desse tipo, com design atraente.
Se o mercado de áudio serve como referência, a mudança no segmento de vídeo – com o consumo de conteúdo tornando-se mais portátil e pessoal – será uma batalha inglória para o TV. Os usuários vão usar seus smartphones e tablets quando quiserem assistir conteúdos de curta duração. O televisor precisará manter sua relevância tornando mais fácil o acesso a conteúdos de longa duração, com a busca sendo feita via aparelhos portáteis.
Nesse sentido, os protocolos DIAL e Miracast são padrões abertos que podem facilitar a mudança. No primeiro, é instalada no TV uma cópia do aplicativo, enquanto no Miracast o conceito de funcionamento é semelhante ao do áudio via Bluetooth. Ao mesmo tempo, o padrão MHL permite que um conector HDMI sirva como expansão para decoders adicionais que atualizem o TV (analisamos essa e outras tecnologias no relatório Quarterly TV Design and Features).
Alguns fabricantes chineses já está se movimentando nessa direção, com seus TVs “Roku-Ready”, que permitem a conexão de um pen-drive do serviço multimídia Roky, via MHL, na prática transformando um TV comum num Smart TV. Da mesma forma, operadoras de TV paga na Europa estão sendo atraídas pela ideia de um conversor (STB) que pode ser enviado ao assinante num mero envelope dos correios.
Os fabricantes precisam avaliar com cuidado se os custos disso tudo – e a estrutura de suporte adequada – compensam o investimento, e se realmente agregam valor ao usuário. Plataformas mais abertas podem ser uma alternativa interessante para enfrentar tablets e smartphones de igual para igual.
*O autor é diretor da consultoria DisplaySearch; o texto foi publicado no site da empresa em 06/04/2013.