Tablets agora podem ser, de fato, livres

Por Joel Evans

Finalmente a Amazon apresentou seu tablet: Kindle Fire, vendido a US$ 199 e oferecendo acesso a mais de 18 milhões de filmes, séries e programas de TV, músicas, aplicativos, jogos, livros, revistas… e a internet. Mais ainda: se você for um membro do Amazon Prime, pode assistir a qualquer momento a mais de 100 mil filmes e séries de TV.

Parecem ofertas tentadoras, e esse tipo de serviço não é algo novo para a Amazon. Então, por que será que o Fire está sendo considerado um “killer” para o iPad? E por que os tablets podem agora se tornar livres? Respondendo a primeira pergunta, já vou dizendo que não acho que o tablet da Amazon irá matar o da Apple. Ao contrário, vai trazer um pouco de saudável competição a esse segmento. Bem, tenho um iPad 2 e meus filhos (de 3 e 7 anos) adoram roubá-lo de mim!

Recentemente, recebi um exemplar do Nova Pandigital, um tablet Android de 7″. A tela não é a melhor do mundo, mas com uma rápida atualização já pude baixar jogos interessantes, inclusive Angry Birds. E, para minha surpresa, meus filhos logo pediram para jogar também. Isso me mostrou que, para a maior parte das aplicações, se você conseguir chegar perto da experiência do iPad, até mesmo um tablet Android básico irá lhe servir.

O Nova acessa a Barnes and Noble, não a Amazon, custa apenas US$ 180 (muito menos que os US$ 499 do iPad 2), e as crianças nem notam a diferença. Graças a sua funcionalidade e preço, o Nova já era nosso candidato a presente de Natal, pois oferecia grande parte dos recursos do iPad por quase um terço do preço (deve chegar aos US$ 150 até o final do ano).

Quanto ao Kindle Fire, também roda Android e tem tela de 7″, mas sua interface é muito melhor. Seu maior diferencial, no entanto, é a enorme quantidade de serviços que tem por trás. Está claro que, unindo um hardware robusto a um software consistente, temos aí um vencedor. “Não encaramos o Kindle Fire como um tablet, mas como um serviço”, disse o fundador da Amazon, Jeff Bezos, durante a apresentação. Claro: como o Kindle anteriormente, o Kindle Fire só é importante na medida do conteúdo que vem armazenado nele.

Evidentemente, a Amazon tirou lições de alguma página do livro de ouro da Apple, no sentido de não apenas vender um aparelho, mas um monte de coisas junto com ele. E com certeza irá fazer um monte de dinheiro.

Não se enganem: o Kindle Fire é um tremendo consumidor de mídia. Sejam filmes, música ou apps, trata-se de um aparelho que estimula as compras o tempo todo. Isso fica claro já a partir da ausência de uma câmera. A Amazon diz que tomou essa decisão para reduzir o custo do aparelho, o que é verdade, mas há também uma filosofia aqui: o Fire não deverá ser usado para criar conteúdo, ainda que seja uma simples foto.

Em termos de interface, a Amazon investiu muito para eliminar a complexidade do Android. Inspirou-se também na Apple, ao facilitar a navegação e o acesso a todos os tipos de conteúdo. Os arquivos na tela principal são organizados de acordo com os acessos mais recentes, ou seja, álbuns e livros que o usuário acessa regularmente são mais facilmente abertos.

Durante a apresentação, Bezos e os executivos da Amazon usaram inúmeras vezes a palavra “nuvem”. O crescimento exponencial dos serviços em nuvem foi que levou a Amazon a manter o Fire com apenas 8GB de memória interna, o que não é muito. Também é algo que ajuda a manter o preço baixo. E o navegador Silk, lançado junto com o aparelho, é um híbrido de nuvem e memória local.

A ideia é aliviar o aparelho da carga necessária à abertura rápida das páginas, deixando a maior parte da memória no servidor da Amazon. Por isso, o navegador consegue carregar as páginas com extrema velocidade, a ponto de dar a impressão de que elas já estavam armazenadas nele!

Quanto à questão sobre os tablets se tornarem livres um dia, não acho que a Apple irá distribuir iPads de graça, mas vejo a Amazon gradativamente reduzindo o preço do Fire – se não começar a simplesmente dá-lo de presente. Para ter acesso a todos os recursos do Fire, você precisa se tornar um membro Prime da Amazon. Isso custa US$ 79 por ano.

Subtraindo esse valor dos US$ 199 pagos pelo aparelho, você ainda teria US$ 120. Quer dizer, a Amazon já está perdendo dinheiro! A questão, portanto, é saber quanto eles estão dispostos a perder para conquistar um cliente fiel, que irá continuar comprando sempre.

Há muito tempo ouço falar que a Amazon pensava em dar de presente a seus clientes Prime um e-reader Kindle. Quando esse aparelho começou a fazer sucesso, a ideia passou a fazer sentido para mim. Os clientes tradicionais da Amazon já aceitavam pagar 2 dólares para receber seus produtos em casa.

Então, por que não dar a eles um aparelho que estimula ainda mais o consumo, considerando que esse cliente já adora a facilidade de acesso e a experiência de comprar na Amazon? Na prática, a empresa não deu nenhum Kindle de graça a ninguém, mas a maioria dos clientes Prime que conheço acabaram comprando o aparelho do mesmo jeito – porque confiavam na Amazon.

Levando em conta tudo isso, é fácil constatar que os US$ 199 pagos por um Kindle Fire são apenas o começo. Logo, a Amazon provavelmente estará oferecendo aos clientes Prime um desconto, e não será surpresa para mim se daqui a um ano até mesmo tablets de outras marcas forem subsidiados e seus usuários estiverem seduzidos por algum serviço do tipo nuvem. Quanto ao iPad, o preço alto deve se manter, mas a Apple também logo estará incentivando seus serviços em nuvem.

Bem, você deve estar perguntando: devo comprar um iPad 2 ou um Kindle Fire? Eu diria que, se você é fã de entretenimento, o Fire é tão bom quanto o iPad, se não melhor. Estar conectado aos serviços da Amazon é um bom diferencial. Mas, como usuário profissional, tenho que dizer que o iPad ganha de longe, porque o sistema iOS é mais aceito nas empresas americanas, enquanto o Android ainda é visto mais como um sistema para consumidores.

Texto publicado originalmente no site ZD Net, em 28/09/2011