osesp_interna_03Sob o sinistro título de “SOS Cultura“, o Estadão de sexta-feira passada retratou o desespero de artistas e empresários do setor com o cancelamento das verbas de patrocínio, conseqüência inevitável da “marolinha” econômica. A situação é realmente preocupante, para um setor que se condicionou a viver de ajuda estatal e incentivos, digamos assim, enviezados – o que comentei aqui outro dia sobre o cinema vale também para quase todas as outras formas de expressão cultural no País.

Vejam a lista de projetos e eventos que, segundo o Estadão, já foram ou estão sendo cancelados por falta de patrocínio e os nomes das empresas que, teoricamente, estavam comprometidas com sua realização e desistiram:

* Tim Festival e Prêmio Tim de Música, da operadora italiana que, embora invista pesado em marketing (até para se contrapor à concorrência mais do que agressiva), não pretende realizar os dois eventos este ano.

* Festival de Teatro de Curitiba, evento tradicionalíssimo, já em sua 18a. edição, e fundamental para revelar novos talentos. A Petrobrás decidiu que não é sua prioridade.

* Virada Cultural, uma série de atividades multiculturais realizada nos últimos anos na capital paulista, com verbas da Prefeitura, que anunciou cortes de 33%.

O único patrocinador de peso que confirmou ao jornal estar aumentando investimentos em cultura é o Itaú. Mas o próprio ministro interino da Cultura, Alfredo Manevy, admite que a situação é complicada. Ele promete levar ao presidente Lula um plano de projetos que gerem emprego, como reforma de espaços culturais e ampliação de salas de cinema. Mas, na prática, sabe-se que isso de pouco adianta. O próprio Lula anunciou há algumas semanas o contingenciamento de verbas em vários ministérios; o da Cultura foi “premiado” com um corte de 75%!

Na verdade, o buraco é mais embaixo. A crise está aí desde o ano passado, e todos já deviam ter se preparado para ela. Por que não artistas e produtores culturais? Esse setor vive há anos numa espécie de ilha da fantasia, em que consegue verbas públicas via conchavos e tráfico de influência. Não é à tôa que os maiores patrocinadores culturais do País atendem por nomes como Petrobrás, Banco do Brasil, Eletrobrás e Caixa Econômica Federal.

Quanto às empresas privadas, o apoio tem vindo através da Lei Rouanet, que em muitos casos é uma enganação. Você bola um projeto, consegue um patrocinador, depois tem que passar pelos crivos burocráticos de Brasilia, também recheados de tráfico de influência (quando não coisas mais graves), e se tudo der certo depois de meses o patrocinador é autorizado a liberar o dinheiro. Em troca, fica livre para deduzir a maior parte da verba de seu imposto de renda no ano seguinte. Nenhuma palavra sobre o retorno do investimento. E mil falcatruas na hora de comprovar o uso da verba autorizada (os arquivos dos jornais estão lotados de denúncias a respeito, sobre as quais as investigações são, no mínimo, precárias). Já entrou para a antologia o caso “Chatô”, que seria produzido pelo ex-ator Guilherme Fontes, levantou milhões em verbas (públicas e privadas) e até hoje não saiu do papel. Fontes continua solto.

A isso chama-se de política cultural. Sempre questionei o uso de verbas públicas para produção cultural, porque – como já comentei aqui – acho que governo deve se preocupar com três coisas: saúde, educação e segurança. No Brasil, os esquemas de incentivo levam até ao financiamento de filmes eróticos!!! Uma política cultural digna do nome poderia, com certeza, incluir a restauração de museus, teatros, bibliotecas e monumentos históricos; ou a distribuição de livros nas escolas. Mas, parou por aí.

Nunca é demais lembrar: Chico Buarque, Carlos Drummond de Andrade, Graciliano Ramos, Hector Babenco, Portinari e outros grandes nomes da nossa arte nunca precisaram de verbas públicas.

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