Alguns comentários de leitores colocados aqui – por exemplo, em relação ao texto que fiz na semana passada sobre os planos 3G das operadoras de celular – comprovam a revolta da maioria dos usuários contra o mau serviço prestado pelas concessionárias. Não é apenas no celular, mas na telefonia fixa, na energia, no atendimento a necessidades básicas da população, enfim, uma série de atividades em que o Estado deixa os contribuintes literalmente “na mão”, em troca de impostos indecentes. É bom que as pessoas se revoltem, e utilizem todos os canais disponíveis para questionar e cobrar serviços públicos mais dignos.

O problema é o tipo de solução que alguns apresentam. A maioria das pessoas confirma mesmo ter memória curtíssima. Um leitor, misturando cobra com lagarto, escreveu que os serviços de telefonia “só pioraram” depois que foram passados ao “cartel” das operadoras estrangeiras. Talvez tenha menos de 20 anos de idade e, por isso, não se recorde dos tempos em que, para se conseguir uma linha telefônica, era preciso ficar três ou quatro anos na fila (como eu próprio fiquei), ou então curvar-se a agiotas que vendiam suas linhas a preço de ouro. E tudo era controlado por um grupo de estatais, nas quais mamavam os políticos de então. Como sabem todos que me acompanham aqui, critico as operadoras continuamente, porque acho que elas poderiam prestar um serviço muito mais eficiente, e a um custo bem mais baixo. Mas elas são empresas, que têm lá seus acionistas e precisam gerar lucro a eles. Se viraram uma espécie de “inimigas públicas”, com todo merecimento, é porque falta fiscalização.

Essas críticas desinformadas à privatização me fazem lembrar a velha piada do sofá. Estão procurando o suspeito errado! No mundo inteiro, operadoras – como qualquer empresa – querem ganhar dinheiro, e isso em si não tem nada de mais. Todos nós queremos. O problema está na falta de concorrência e de uma ação mais efetiva da Anatel. Esta divide-se hoje entre os amigos do poder (indicados por influência política) e os amigos das teles. Enquanto essa situação persistir, nada vai mudar, infelizmente.

3 thoughts on “As inimigas públicas

  1. Provavelmente é gente que não viveu a época das operadoras de telefonia estatais ou não se lembra. Há algum tempo me deparei com um estudo que analisava, entre outras coisas, as tarifas cobradas pelas estatais e, depois, pelas empresas ja privatizadas. A assinatura, por exemplo, era um item que chamava atenção. Os que não cansam de culpar a “privataria tucana” sempre dizem que as assinaturas eram baratíssimas, mas não lembram dos preços altíssimos dos interurbanos, que compensavam a assinatura baixa. Não se lembram do esquema de pulsos, da falta de contas discriminadas e, como você disse, do prazo absurdo para instalar a linha. E os padrões de qualidade: em certos bairros do Rio, por exemplo, o telefone demorava cinco, dez minutos para dar linha… Ou então não completava as ligações, não haviam serviços agregados e Internet rápida, nem pensar. Escolha de operadora de DDD? Impossível. As tarifas internacionais eram uma das maiores do mundo.

    Bom lembrar também do cabide de empregos que eram as estatais. O mérito dava, muitas vezes, lugar as indicações políticas e os balanços apresentavam prejuízos, sem que pessoas fossem responsabilizadas por eles. O Tesouro, no fim das contas, cobria os buracos.

    As esquerdas irresponsáveis culpam o neoliberalismo, o estado mínimo, os tucanos por todas as mazelas do país. Só que tiveram oito anos para botar a casa em ordem e não mexeram um dedo para mudar a situação para os usuários. Na era petralha, o estado que meter o bedelho nos negócios alheios, favorecedo os amigos como vemos no caso da Oi-Brasil Telecom, mas continua um estado mínimo no que tange educação, transportes, infra-estrutura, segurança, saneamento, habitação…

  2. Não se preocupe, Julio, o Lula foi buscar as soluções a todos esses problemas aí com o sábio Fidel Castro. Em maio, buscará com o Amadinejhad. Estamos em boas mãos.

  3. Assino embaixo. Ainda lembro dos tempos em que possuir uma linha telefônica era algo tão caro e tão exclusivo que o feliz possuidor tinha que listá-la como um bem, na declaração de Imposto de Renda. Era algo inclusive a se deixar de herança para um filho. Quem defende esse modelo ou é muito ignorante ou é muito desonesto intelectualmente.

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