Como se previa, pegou fogo o Congresso da ABTA, que terminou ontem em São Paulo. Sobraram acusações e insinuações para quase todo mundo. E não foi apenas por causa das cotas de programas nacionais. Há muito dinheiro em jogo. Vejam alguns lances da disputa que envolve emissoras, operadoras, produtoras e governo e que ficaram evidentes no encontro:

*As Organizações Globo continuam dominando a cena. Detêm a maior rede de TV aberta, as duas maiores operadoras de TV paga, a maior distribuidora de sinal (Globosat), enorme influência junto ao governo e ao Congresso e – desde que foi criada a Globo Filmes – a principal fornecedora de conteúdo cinematográfico.

*O Grupo Abril, que é o maior do País no ramo editorial, não consegue fazer decolar sua operação de televisão. A TVA ainda tem muito menos assinantes que as concorrentes, e a MTV – embora tenha prestígio – não sobrevive se ficar muito tempo fora das grades da Net e da Sky.

*A Record é a rede que mais cresce porque não depende de faturamento publicitário e, sim, dos dízimos da Igreja Universal. Vai fazer tudo que puder para derrubar a Globo, inclusive eleger um número cada vez maior de parlamentares.

*A Anatel, esvaziada pelo atual governo, não consegue mais mostrar a razão de sua existência. É cada vez mais refém das emissoras e operadoras, e sua missão constitucional de proteger o consumidor já ficou na poeira há muito tempo.

*Produtores de cinema e de vídeo independentes, claro, querem ter espaço em todas essas emissoras, de preferência com algum tipo de reserva de mercado, e para isso utilizam uma arma que sempre dominaram bem, desde os tempos da finada Embrafilme: o tráfico de influência e a troca de favores com integrantes do governo. Que também adoram esse esquema, pois é aí que podem demonstrar seu poder. Dá para contar nos dedos de uma mão os produtores que colocam em primeiro lugar a qualidade de sua produção, e não os interesses pessoais.

*Programadoras estrangeiras querem aquilo que procuram no mundo inteiro: retorno de seus investimentos. Nenhuma delas está no Brasil para se divertir, nem para perder dinheiro. Todas têm acionistas que costumam zelar por seus dólares ou euros.

*Os políticos… bem, esses dispensam maiores explicações.

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