Os cinéfilos hão de se lembrar: o título acima foi roubado de um filme de Wim Wenders, dos anos 80. Era um filme “cabeça”, cheio de mensagens cifradas, entediantes para quem, como eu, não é lá muito fã do cinema alemão. Passou no Brasil com o título de “Asas do Desejo”, mas o título original “O Céu sobre Berlim” é muito mais sugestivo.
Vendo agora este céu mais do que azul, nesta tarde de domingo em Berlim, lembrei-me do filme, em que dois anjos descem à cidade, em preto-e-branco, e quando encontram humanos a tela se enche de cores. Não conheci Berlim antes da queda do muro, mas conversando aqui com pessoas que viveram aquela época dá para fazer uma idéia. O que aconteceu na cidade nos últimos 20 anos (o Muro de Berlim foi derrubado em 1989) é um verdadeiro milagre do gênio humano. Que veio para corrigir os males da estupidez humana, cometidos na época do nazismo (1933-1945) e, depois, no comunismo (1945-1989).
Andando pelas ruas, ainda pode-se ver marcas de destruição. A mais chocante delas é a da Igreja de São Guilherme (foto), que foi parcialmente destruída durante um ataque dos aliados na 2a. Guerra. Ficou como símbolo: os alemães não a restauraram nem demoliram, deixaram ali, no mesmo lugar e com os sinais das bombas; a seu lado, construíram uma igreja nova, que é usada pelos fiéis. Mas todo mundo para diante da antiga. Vejam que a cúpula está faltando um pedaço e as paredes estão queimadas.
O milagre de Berlim, além de ter sobrevivido aos bombardeios, é ter se transformado – de uma cidade dividida e semi-destruída, numa capital moderna, vibrante, com uma arquitetura inovadora, mas que respeita a História. Construções seculares convivem harmoniosamente com obras de arte criadas pelos arquitetos nas últimas duas décadas. É também uma cidade cosmopolita (ao contrário da maioria das cidades alemãs), repleta de nacionalidades.
Se fossem escolher uma capital para a Europa, Berlim seria uma candidata imbatível.