piracyExcelente e muito útil a reportagem do Estadão deste domingo sobre o esquema do crime organizado em torno da pirataria no Brasil. Vale a pena ler, se você quiser entender melhor como funciona hoje esse que é um dos negócios mais lucrativos no País do vale-tudo. Não se trata, é claro, apenas de contrabando de produtos eletrônicos, e este nem é o item mais rentável. Como afirmam os repórteres, o esquema é muito mais amplo, envolvendo enorme variedade de artigos – de tecidos a medicamentos falsificados.

Alguns aspectos me chamaram ateñção na reportagem. Primeiro, a revelação de que a cidade de São Paulo está tomando o lugar do Paraguai como “fonte” da muamba. Camelôs e pequenos lojistas – além de alguns nem tão pequenos assim – agora se abastecem na capital paulista, não precisam mais correr os riscos de ir até Ciudad del Leste e adjacências, enfrentando longas viagens e o perigo de assaltos e – de vez em quando – blitz da polícia. Esse é o “progresso paulistano”.

Outro dado interessante é que os próprios policiais dão aos repórteres detalhes dos esquemas utilizados pelos criminosos. E se dizem impotentes para impedir. “Se prender mil camelôs, no dia seguinte vai ter outros mil”, diz Luiz Paulo Barreto, presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria. Até porque o governo colabora, baixando normas como a chamada “Lei do Sacoleiro”, que diminuiu a burocracia aduaneira para importações da China.

Falando especificamente sobre eletrônicos, notebooks da marca Acer, por exemplo, agora podem entrar no Brasil “direto”, nem precisam passar pelo Paraguai. E, como diz a reportagem, acabam sendo vendidos até mesmo em grandes magazines! Foram 500 mil aparelhos apenas em 2008, mas apenas 90 mil estão registrados na Receita federal, segundo o Instituto Brasil Legal.

Por fim, mais um pequeno detalhe: o site do Estadão abre espaço para que os leitores comentem a reportagem. E o que dizem eles? Aprovam o esquema todo.

3 thoughts on “Pirataria comendo solta

  1. Mas você deve saber por que todo mundo aprovou não foi?
    Pela milésima vez que se fala nesse assunto, a milésima explicação é a mesma: se você tem baixa renda, assiste como todos nós uma enxurrada de anúncios o tempo todo (compre, compre, compre, não perca, não perca não perca) e ainda por cima, quando chega numa loja vê cds, dvds e afins a preços extratosféricos, com o logísta ainda te fazendo de babaca, dizendo “apenas R$999,99”, obviamente que aquilo de dá um senso de impotência. E essa acaba sendo dirimida através de uma ida no camelô, na qual o cara te faz 3 por dez e fica “tudo em casa”.
    Acho que a economia e a indústria no Brasil está igual a time de futebol em crise e que não pagam salários em dia: só vão poder exigir algo da população quando cumprirem a sua parte.
    Se atenha a realidade. Pense que quando um cidadão do seu país gasta 4 unidades e meia da sua moeda pra comprar um kl de feijão, gasta quase 14 unidades se quiser comprar um contra-filé, é óbvio que se pirateassem comida na banca pode ter certeza que o povo tava lá filho.
    Eu estava lendo num site de uma revista que só fala em carros o lançamento de um carro, que pros Europeus vai custar 32 mil unidades da sua moeda e pra nós, quando chegar aqui vai custar 210 mil unidades de nossa moeda. Gente acorda!!!!!
    Pelo amor de Deus! Quem em sã consciência vê algo assim e pensa na sua cabeça “tá tudo bom”.
    Não adianta, amigo, as crianças e adultos daqui, tem os mesmos desejos e anseios dos de lá. Só que lá, esse desejo é satisfeito dentro de uma loja e aqui é no beco da esquina olhando prum lado e pro outro.
    Acho que a mídia Brasileira têm de parar de fazer tanta repressão pra ajudar a indústria e fazer mais comparações abrindo o olho do cidadão em relação ao seu país (claro que verdadeiramente e não de mentirinha como se faz hoje né?)
    Acho muito simples tomar uma posição, apartir do prisma de quem tem os meios para a compra legal. O difícil é querer ter o certo, mas ser subjetivamente levado a comprar o errado.
    Falando pessoalmente, eu compro tudo (mas tudo mesmo original), mas eu por enquanto posso fazer isso. Eu não tenho 2 ou 3 filhos, eu e minha mulher trabalhamos, somos só 2 dentro de casa e etc…. Agora e o meu vizinho, com os 4, 5 ou mais filhos? Será que ele e a mulher dele tem renda? Ou será só um dos dois? Quantos quilos de feijão se consome na casa dele? Lembra do preço desse mesmo feijão que eu falei? Bem será então que este vizinho vai poder pagar 15, 16, 18 e até (acreditem!!!) 22 reais pra ver um filme no cinema?
    Bem, este mesmo vizinho andando nas ruas do centro Rio, quando ouvir o cara dizendo que aquele mesmo filme sai por 5 ou 10, ele não vai nem pensar se vai ver a cabeça da platéia, a câmera tremer e alguns indivíduos passando na frente. Ele vai querer alegrar os filhos com a novidade.
    Repito: compro tudo original, mas condeno quem compra pirata.!

  2. Perdão na última frase acima. Eu quis dizer que “não condeno” quem compra pirata.

  3. Prezado Orlando,

    Por incrível que pareça, o maior incentivador da pirataria é o próprio Governo. Se não fossem tão altos os preços dos produtos vendidos legalmente, não valeria a pena para os muambeiros atuarem.

    No dia que tivermos uma carga tributária viável, todos produtos ficarão muito mais baratos, e automaticamente os muambeiros serão excluidos da cadeia produtiva.

    Enquanto isso, segue a classe média, financiando a pesada estrutura governamental.

    Será que quando eu me aposentar, aos 65 anos, estarei recebendo salário pleno, como os funcionários públicos, ou serei apenas mais um dos milhares de brasileiros pobres?

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