O tópico de ontem tem a ver também com outro problema que o Brasil parecia ter deixado para trás, mas que se recicla de tempos em tempos: o protecionismo, que às vezes ganha tons de xenofobia e frequentemente vem misturado a uma suposta defesa da “soberania nacional”. Não são problemas específicos do Brasil, é claro; na Alemanha mesmo, onde estive recentemente, vê-se aqui e ali movimentos em defesa do “orgulho germânico” resultando em violência e perseguição a grupos étnicos e imigrantes em geral. Mas, como sou brasileiro e me preocupo principalmente com meu país e o futuro que deixaremos para nossos filhos e netos, tenho que analisar o que acontece aqui.

Ontem, por exemplo, a presidente Dilma Roussef, ao justificar o aumento do IPI para carros importados (típica medida protecionista), disse textualmente que “o nosso mercado interno não será objeto de pirataria por país nenhum”. Referia-se, claro, à China e às empresas chinesas, como a montadora JAC, que anunciou o cancelamento dos planos de montar fábrica de carros no Brasil. O argumento da empresa é mais do que sensato: com tantas mudanças na política econômica, ao sabor das conveniências políticas, não há como se planejar para um investimento de longo prazo como é a montagem de uma fábrica de automóveis.

Depois de ter ido à China e anunciado aos quatro ventos a instalação de uma montadora de iPad no Brasil (lembram-se? Falaremos disso adiante), Dilma parece ter descoberto que os produtos chineses já tomaram conta do mercado brasileiro há muito tempo – carros são apenas o mais recente deles. A maior parte desses produtos, como se sabe, entra no país por vias transversas (em português claro: contrabando!!!). E, pelo que sabemos dos importadores de eletrônicos, o movimento na Ponte da Amizade, do Paraguai para o Brasil, continua alto como sempre.

As palavras de Dilma têm uma explicação: foram ditas num evento cuja plateia era formada por empresários brasileiros que detestam concorrência. Para estes, aumentar a taxação sobre produtos importados soa como música. Se pudessem, eles voltariam à época da reserva de mercado.

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