Escrevo neste momento enquanto aguardo, no aeroporto de Chicago, a conexão para Las Vegas. Apesar do frio, um lindo raiar do sol – que testemunhamos pela janela do avião – serviu para compensar o cansaço da viagem até aqui. Foi também uma forma de enfrentar o stress que algumas pessoas parecem carregar consigo até quando estão em férias. Embora já tenha visto grosseria em vários países, e em idiomas os mais diversos, tenho a impressão de que é difícil bater os brasileiros nesse quesito.
Está certo que o aeroporto de Cumbica é um dos piores do mundo. Mas também não é preciso reclamar das filas de check-in, nem soltar palavrões só porque o celular não está conseguindo acessar o Facebook – sim, foi o que ouvi de um passageiro antes de embarcar. Esses problemas acontecem em todo aeroporto.

Um dos espetáculos mais patéticos que observo em viagens é a retirada das malas, quando se chega ao destino. Já vi pessoas se empurrando, e quase saindo no tapa, pelo direito de pegar sua mala primeiro – como se disso dependessem seus destinos. Até as crianças agora deram para se estressar e dar seus showzinhos particulares quando a mala demora a sair!!! Hoje mesmo, um garoto de uns 8 anos se atirou sobre a sua mala e quase foi engolido pela esteira.

Uma vez dentro do avião, é preciso esforço de monge budista para não se irritar com trombadas (vá lá, a maioria involuntárias), malas roçando a sua orelha como os efeitos sonoros de certos filmes, pés alegremente acomodados no encosto do banco, bem a seu lado, e o desespero de socar as malas no bagageiro, mesmo que para isso seja necessário espremer a sua (que você, educado e pontual, ali colocara antes).

O bagageiro dos aviões, aliás, mereceria uma crônica do mestre Luiz Fernando Veríssimo. Nos últimos tempos, talvez pela euforia das compras no Exterior, os turistas brasileiros, para não pagar pelo excesso de peso, resolveram carregar consigo malas cada vez maiores, a título de “bagagem de mão”. Mão? Várias delas às vezes não dão conta de erguer certos entulhos (desculpem, não encontro outra definição) que se vê principalmente nos vôos para Miami e Nova York. Curioso que as pessoas parecem não se contentar em comprar bugigangas; querem ostentá-las como troféus olímpicos. Devem ser aquelas mesmas que de vez em quando aparecem na televisão pedindo “Filma eu, Galvão”.

De fato, nada se compara ao furor consumista do brasileiro, ainda mais nos atuais tempos de “fartura”. Enquanto americanos, franceses, espanhóis, ingleses e italianos vão às ruas para protestar contra a falta de dinheiro, nós aqui nos orgulhamos de exibir marcas de grife, inclusive quando estamos lá, na casa deles. Bem, consumir também provoca stress, como sabe qualquer um que já passou por um free-shop. Os brasileiros, porém, são insuperáveis: invadem o free-shop quando vão viajar, e repetem a invasão na volta da viagem. Nada contra. Mas não daria, por favor, pra pelo menos levar uma listinha, e assim evitar o tumulto na hora de escolher o perfume?

Enfim, encerrado o vôo e passada a fila da imigração (dependendo do humor do agente da alfândega, isso pode ser mais um motivo de stress), sente-se um enorme alivio ao chegar aqui onde estou – uma sala de embarque tranquila, à espera da conexão. Deu até tempo de escrever estas mal traçadas, sem stress.

Agora, licença: a moça da companhia aérea está querendo me mostrar umas ofertas “da hora”, direto do duty-free. Como resistir?

1 thought on “Stress de viajante

  1. Acrecento a sua lista o desespero para sair do avião (como se não tivessemos que esperar pelas malas), a falta de respeito na chamada dos grupos de embarque e o volume dos MP3 da vida, cujo som “vaza” pelos fones de ouvido e atrapalham quem está sentado nas redondezas. Falta de civilidade é fogo…

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *