Como se sabe, jornalista não gosta de ser criticado. São raríssimas as exceções. Tempos atrás, fui censurado por um jornalista da Veja, no Facebook, por chamar a imprensa de “mídia”. O conceito, tentou ensinar o nobre colega, aplica-se aos meios de comunicação, mas não às empresas que os mantêm. Pura discussão de botequim, que me fez simplesmente abandonar a conversa.
Desde cedo na profissão, aprendi também que jornalista costuma ter solução para todos os problemas do mundo. Talvez por ter acesso a informações privilegiadas, julga-se – mais do que os pobres mortais – dono da verdade numa série de especialidades. Muitos costumam exercitar esse pendor também nos botequins da vida. Quando se vêem contrariados, usam uma arma ferina contra o adversário: o puro tráfico de influência, para disseminar fofocas e/ou factoides.
Difícil encontrar um jornalista que queira discutir, a sério, questões muito mais relevantes, como a regulamentação da mídia (ou será da imprensa?), um dos assuntos do momento. Na semana passada, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, incitado por jornalistas, revelou que o governo estuda uma forma de enquadrar os sites de notícias estrangeiros na legislação que obriga toda empresa jornalística a ter, no mínimo, 70% de seu capital nas mãos de brasileiros. O motivo seria o anúncio de que o site americano The Huffington Post, propriedade da America Online (AOL), estaria em vias de lançar sua versão brasileira. Para completar, Bernardo informou que o governo também quer retomar a discussão sobre o marco regulatório da mídia (ou será imprensa?).
Os vários sites dedicados à comunicação no Brasil se dividem entre as saudações ao ministro – por, finalmente, dedicar-se a defender a cultura nacional (!!!) – e as críticas ao governo como um todo – por agir pressionado pela Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), que estaria com medo da concorrência estrangeira. Ambas (saudações e críticas) me parecem frutos da mesma árvore: o corporativismo.
Qual seria o perigo de uma empresa estrangeira abrir um site no Brasil? Propagar aqui a terrível ideologia capitalista? Num momento em que quase todos os grupos nacionais de mídia estão operando no vermelho, e demitindo centenas de pessoas, não seria bem-vindo o investimento de uma multinacional forte? E por que o governo teria de se envolver no assunto?
Quanto ao marco regulatório da mídia, este é o novo eufemismo criado pelos defensores de maior controle público (leia-se: do governo) sobre os meios de comunicação. É algo que vem sendo tentado desde o primeiro dia do governo Lula, e intensificado a partir das denúncias sobre o Mensalão (na época, não faltou quem dissesse que aquilo fora invenção da imprensa). O ministro Paulo Bernardo chegou a dizer, quando assumiu, que o tema estava fora de cogitação. Pelo visto, as pressões em contrário estão sendo muito fortes.
É o sonho de (quase) todo mundo que assume o poder: mandar na imprensa (ou seria mídia?)