Ontem à noite, pela enésima vez nos últimos meses, um grupo de ciclistas (leio no jornal que eram cerca de 500) decidiu ocupar a Avenida Paulista. Por volta das 19hs, se encontraram num extremo e foram pedalando calmamente até o outro. O motivo seria a morte da ciclista Juliana Dias, semana passada, em mais um lamentável episódio de violência típico do trânsito paulistano. Deveriam, portanto, estar de luto, manifestando a dor da perda de mais uma vida humana. Passando pelo local, o que vi não foi bem isso: vários deles pareciam alegres como num dia de Parada Gay; cantavam, conversavam animadamente, alguns até carregavam latas de cerveja.

Para minha sorte, estava do outro lado da avenida, onde o trânsito andava lento como é normal naquele horário. Mas quem precisava fazer o percurso inverso deve ter sofrido. O congestionamento estendia-se a pelo menos uns quatro quilômetros além da Paulista. Certamente, as transversais também foram afetadas, algo normal quando a principal via paulistana é ocupada. De tão surrados, já soam jurássicos argumentos como o de que a região abriga vários hospitais e, portanto, não se trata do local mais adequado para manifestações e eventos públicos. Ninguém mais liga para esse tipo de racionalismo. Incomoda menos ainda a constatação de que a Paulista já é, historicamente, uma via congestionada, inclusive nas calçadas.

No Natal passado, o prefeito Kassab chegou a dizer que, se pudesse, proibiria a circulação de carros ali, para que “o povo” pudesse andar mais à vontade. Ótimo. Seria uma excelente alternativa. Sou totalmente a favor de se delimitar áreas da cidade onde o tráfego de veículos motorizados seja vetado, ou pelo menos controlado. Como se tenta fazer agora com os caminhões nas Marginais. Grandes cidades do mundo já optaram por essa solução.

Enquanto nenhum governante tem a coragem de tomar essa atitude, que tal usar pelo menos um pouco de bom senso? Ao ocupar arbitrariamente uma via importante da cidade, os ciclistas só (re)alimentam a estúpida competição entre carro e bicicleta. Por que não se reuniram, por exemplo, em frente à sede da Prefeitura, ou do Palácio dos Bandeirantes, da Assembléia Legislativa, ou Câmara Municipal, para incomodar os políticos que pouco (ou nada) fazem para tornar a vida na cidade mais civilizada? Por que punir mais uma vez a população? Sim, é provável que entre os motoristas prejudicados estivessem muitos que já deram fechadas em ciclistas e motociclistas. Mas, por que generalizar atingindo a todos os que também têm direito de utilizar as ruas da cidade?

Infelizmente, a morte de mais uma pessoa está servindo de desculpa para novas manifestações de arbitrariedade e intolerância, tão graves quanto a atitude de quem desrespeita as normas básicas de convivência no trânsito. Vai um pouco de bom senso aí?

 

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