Nunca fui particularmente fã de Oscar Niemeyer como arquiteto. Claro, pouco entendo do assunto. Mas, apesar da inquestionável criatividade, me incomoda em suas obras a falta da natureza. Pelo menos nas que conheço, não se veem árvores, grama, pequenas plantas que sejam. Sua marca é o concreto em variadas formas, as famosas curvas, traços irregulares, ângulos marcantes – mas ainda assim concreto. Há até a fama de que suas casas são inabitáveis, embora deslumbrantes por fora. O próprio Palácio da Alvorada, símbolo de sua maior obra, já foi rejeitado como moradia por presidentes e primeiras-damas. O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha de São Paulo, em sua coluna homenageando o arquiteto escreveu: “Era um gênio. Construiu Brasilia, mas nunca quis morar lá.”

Numa de suas entrevistas, Niemeyer deu uma explicação para seu estilo: não fazia arquitetura para os ricos, mas para os pobres. “Arquitetura é coisa de rico”, disse certa vez. “Só quem tem dinheiro pode pagar por ela. Então, já que é assim, procuro fazer coisas bonitas por fora, para que as pessoas pobres pelo menos possam admirá-las de longe.”

Belíssima e poética justificativa. E deve ser sincera, como quase tudo que Niemeyer fez na vida. Mais do que um arquiteto, era um humanista, um homem profundamente preocupado com o ser humano e a injustiça que recai sobre grande parte das pessoas. Comunista convicto, mas não daqueles de fazer discursos ou conspirar na calada da noite, ajudou o quanto pôde seus colegas de partido, mas ajudou também muita gente “do outro lado”. Menosprezava os farsantes, e por isso nunca quis se envolver na política convencional.

E, como que a comprovar que ninguém é perfeito, admirava Stálin, talvez o maior criminoso de todos os tempos – “acusação injusta”, dizia. É provável que o nojo aos políticos o tenha mantido longe de Brasilia, sua maior criação. E é certo que um país, ao perder pessoas assim, torna-se mais pobre.

Quem quiser conhecer um pouco melhor essa figura extraordinária não pode deixar de assistir ao vídeo Arquitetura Moderna, feito em 1983 pelo já então brilhante Marcelo Machado. Cliquem aqui para ver.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *