Além de Oscar Niemeyer, outra morte lamentada esta semana foi a de Dave Brubeck, o último grande mestre do jazz, que continuava em plena atividade aos 91 anos (morreu no dia 5 e completaria 92 no dia 6). Foi juntar-se a Ellington, Miles, Armstrong, Coltrane, Basie, Evans e tantos outros gênios do jazz. Talvez até esteja agora batendo papo com seu grande amigo e parceiro, Paul Desmond (falecido em 1977), com quem formou, nos anos 50, o fantástico Dave Brubeck Quartet – dos quatro, só resta vivo o contrabaixista Eugene Wright; o baterista Joe Morello morreu no ano passado.

De certa forma, a morte de Brubeck me deixou mais triste que a de Niemeyer, por dois motivos. Primeiro, sou muito mais ligado em música, especialmente jazz, do que em arquitetura. Além disso, estive bem perto de entrevistar Brubeck em 2002, ao cobrir um evento de tecnologia em San Francisco, onde ele então morava. Na época, editávamos uma revista de música chamada Áudio+, e Brubeck, além de ter inúmeras histórias para contar, era uma simpatia – bem diferente, nesse aspecto, do estereótipo do jazzista tradicional, recluso, maníaco, egocêntrico. Uma gripe mal curada (dele) impediu a entrevista.

Brubeck não era nada disso, ao contrário, divertia-se com as elucubrações que certos críticos faziam em torno de seu trabalho, argumentando que tudo era “muito simples”. Também não sofria de outros males que, como se sabe, atingiram muitos músicos de sua geração: álcool, fumo, drogas, depressão criativa, arroubos de loucura… nada disso fez parte de sua vida, caretíssima. Foi casado com a mesma mulher (Iola, poeta, ensaísta e compositora bissexta) desde 1942, e com ela teve seis filhos, dos quais cinco são músicos profissionais. Era pobre na juventude, como a maioria, e construiu sua carreira sem jamais se envolver em polêmicas ou escândalos, embora tenha apoiado vários movimentos políticos ligados aos negros e à ala mais à esquerda do Partido Democrata (este site conta muito a seu respeito).

Como artista, Brubeck foi talvez o mais popular do jazz depois de Louis Armstrong. Pianista, compositor, arranjador e formador de novos talentos, foi um dos primeiros a prestar atenção no que hoje se chama, genericamente, de world music, trazendo de suas viagens experiências sonoras que depois adaptava ao seu repertório. Parte de sua popularidade – foi o primeiro jazzista a ganhar a capa da revista Time, em 1954 – vem do fato de sempre ter estimulado a música entre os jovens, como no início dos anos 1950, quando promoveu o jazz nas universidades (este é seu site pessoal). Seu songbook é um dos mais versáteis e admirados do gênero, e vai muito além das badaladas e revolucionárias “Take Five” (na verdade, composta por Desmond) e “Blue Rondó a la Turk”. Pessoalmente, recomendo estes que, na minha modestíssima opinião, são seus dez melhores discos:

Jazz at Oberlin, OJC, 1953

Dave Digs Disney, Columbia, 1957

Brubeck Plays Ellington, Columbia, 1958

Time Out, Columbia, 1959

The Real Ambassadors, Columbia, 1962

The Dave Brubeck Quartet at Carnegie Hall, Columbia, 1963

The Duets, Verve, 1975

Late Night Brubeck: Live from Blue Note, Telarc, 1994

Young Lions & Old Tigers, Telarc, 1995

Private Brubeck Remembers, Telarc, 2004

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