Muito já foi dito sobre a política econômica do governo atual. Os mais críticos apontam, por exemplo, as incoerências no setor fiscal, com isenções seletivas para alguns grupos de interesse (como se viu nos casos dos automóveis e dos eletrodomésticos). Já os mais condescendentes elogiam os impulsos ao consumo, que ajudam a colocar milhões de famílias em condições de comprar itens antes inviáveis. Mas um ponto em que a maioria parece concordar é o erro de usar os bancos públicos, especialmente o BNDES, como financiadores de grandes empresas. Anos atrás, tivemos o escandaloso caso da Oi/Telemar, que ganhou bilhões para assumir o controle da Brasil Telecom. Em tempos pré-Copa do Mundo, quase todo dia os jornais noticiam liberações volumosas para as grandes construtoras, responsáveis por estádios que nunca ficam prontos.

Agora, vejam esta notícia publicada ontem no site Convergência Digital: as operadoras de telecom estão no topo da lista de financiamentos do BNDES entre 2009 e 2012. Os dados são do próprio banco, confirmando que as teles receberam um total de R$ 10,41 bilhões, o que representa 3,2% de tudo que o BNDES bancou no período. Alguém pode achar que é pouco; afinal, setores como as montadoras de automóveis, construtoras, siderúrgicas, empresas de energia e petróleo recebem muito mais. Nem tenho como analisar aqui esses negócios. O problema é que, no caso de telecom, são apenas quatro (e sempre elas) as empresas agraciadas: Oi, Tim, Vivo e GVT. As duas primeiras, aliás, ganham de longe.

Funciona mais ou menos assim: a empresa apresenta um plano de investimento e, junto, solicita que o BNDES lhe forneça o valor orçado. A orientação do banco é para que seja dada prioridade a projetos de infraestrutura, como são classificados, é claro, os de telecomunicações. Segundo o relatório, em 2010 foram liberados dessa forma R$ 2,1 bilhões para as quatro teles; em 2011, o número aumentou significativamente: R$ 3,1 bilhões; e no ano passado, mais R$ 4,8 bilhões (o banco não especifica quanto foi dado a cada empresa).

Supõe-se que, sendo um banco, o BNDES exija todo tipo de garantias e coberturas. E, a bem da verdade, se cabe ao governo estimular o crescimento do país, e a infraestrutura é essencial para isso, nada mais natural do que esse tipo de financiamento. A pergunta é: por que apenas quatro empresas, sendo todas elas multinacionais com acesso a recursos externos? O que podem esperar as pequenas e médias empresas brasileiras do setor, justamente as que mais necessitam?

São dúvidas como essas que levam muita gente a desconfiar da política econômica. Se é para ser “mãe”, que pelo menos ajude todos os filhos, e não apenas alguns.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *