Foram meses de uma campanha em que se falou de praticamente tudo, incluindo falsos problemas como Escola sem Partido e o tal “kit gay”, mas não se ouviu uma só palavra sobre tecnologia. Curiosamente, foi graças a uma grande inovação tecnológica, o WhatsApp, que Bolsonaro alavancou sua candidatura e acabou vencendo. Mas nem essa visão avançada, pelo menos em termos de marketing político, o fez colocar uma frase que fosse sobre tecnologia em seu programa de governo, muito menos em seus discursos e entrevistas.

Agora eleito, e às voltas com pressões de todos os lados (como sempre acontece nessas situações), dificilmente o novo presidente terá tempo ou cabeça para discutir um setor que para ele deve ser algo totalmente desconhecido. Começa pela própria definição de que espaço a área de telecom irá ocupar no novo governo. A escolha de um astronauta para ministro de Ciência e Tecnologia pode até ser bem intencionada, mas não aborda a questão de que o futuro é digital e o Brasil não está nem de longe preparado para enfrentá-lo. 

Não é por falta de especialistas, com estudos detalhados e bem fundamentados. Órgãos e entidades como Telebrasil, SET, CNPq e a consultoria Teleco, entre outras, publicam semanalmente análises sobre o que deve ser feito (e como), além de organizarem eventos em que se debate o futuro digital do país. Haverá uma viva alma na equipe de Bolsonaro que esteja atenta a esses dados? Se há, está trabalhando em absoluto silêncio, sem ouvir a comunidade.

Em outubro, pouco antes do segundo turno, aconteceu em SP mais um Futurecom, evento originalmente voltado à área de telecom, mas que a cada ano vem agregando novos interesses. Alguns temas abordados: “Realidade Virtual e Indústria 4.0”, “Infraestrutura Compartilhada de Redes”, “Inteligência Artificial”, “Transmissão para Ambientes em Nuvem”, “Soluções de Fibra Óptica para Data Centers e 5G”, “Cidades Inteligentes”…

Como disse durante o evento o presidente da Telefônica Vivo, Eduardo Navarro, não há mais tempo a perder (após os desmandos e a inoperância dos últimos anos, acrescento eu). Navarro divulgou um documento intitulado “Por um Brasil mais Digital”, em que defende a remoção de barreiras como a tributação excessiva (“a mais alta do mundo”) e a overdose de regras e regulamentações. “O salto que queremos passa pelo emprego massivo das tecnologias da informação, o que mudará todas as áreas: transporte, educação, saúde, agricultura, logística…”, alertou ele (vejam neste link).

Seu maior concorrente, José Félix, presidente da Claro Brasil, foi na mesma linha, reforçando que é preciso urgência no enfrentamento do desafio: “Se continuarmos com esse pensamento de evolução lenta e contínua, vai levar 200 anos para chegar ao nível atual dos países europeus”, previu Félix (aqui, seu depoimento em vídeo).

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *