Uma estrela do cinema brigando contra um grande estúdio? Há quanto tempo você não ouvia falar disso? Pois esta é a grande notícia do ano no setor de entretenimento: Scarlett Johansson, uma das atrizes de maior sucesso nos últimos anos, está processando a Disney por quebra de contrato. Segundo seus advogados, o estúdio não tinha o direito de lançar a superprodução Viúva Negra no streaming antes de encerrada a janela de 90 dias após o lançamento nos cinemas. O filme está sendo anunciado para os assinantes do Disney+ no final de agosto.

Scarlett, que recebeu US$ 20 milhões de cachê pelo trabalho, exige compensações financeiras pelas “perdas”, que seus advogados calculam em US$ 50 milhões, referentes a bônus pela bilheteria do filme. Essa é uma prática comum em Hollywood. Desde 1989, quando Jack Nicholson exigiu porcentagem da bilheteria do primeiro Batman (interpretou o Coringa, lembram-se?), e se tornou um dos astros milionários do cinema, estrelas como Tom Cruise, Sylvester Stallone e mais recentemente Vin Diesel só aceitam fazer filmes sob essa condição.

Só que, hoje, as bilheterias representam apenas uma parcela ínfima da renda dos filmes. Com a pandemia, o mundo se voltou para o streaming. E todos – tanto atores e diretores quanto os estúdios – precisam se adaptar. Artigo da jornalista Ana Maria Bahiana, que reside há décadas em Hollywood, publicado domingo último na Folha de São Paulo, detalha os bastidores da disputa Scarlett vs Disney. Mais do que isso, conta como têm sido as relações entre atores (que os americanos chamam “talentos”) e as gigantes do cinema ao longo dos últimos 100 anos.

A BRIGA PELO “OURO DIGITAL”

O fenômeno Netflix fez os grandes estúdios (Disney, Warner, Fox, Paramount…) repensarem totalmente seus modelos de negócio. Na chamada “era dourada” do cinema, entre os anos 1920 e 1950, atores e atrizes eram assalariados dos estúdios, e estes controlavam todo o processo de um filme – da pré-produção à distribuição. Agora, Hollywood quer voltar a ter a palavra final sobre o “ouro digital”, expressão usada no artigo.

Em 1948, justamente para frear aquele domínio implacável, a Justiça americana proibiu os estúdios de serem donos de redes de exibição. Cada filme passou a ser negociado individualmente com os proprietários das salas e com os atores, que deixaram de ser contratados em regime de exclusividade. Mas, em 2020, caiu a proibição, instaurando o que um produtor chama de “Oeste Selvagem”. Alegando prejuízos com a pandemia, os estúdios conseguiram retomar parte de suas prerrogativas. Só faltou combinar com os atores.

A bela e talentosa Scarlett (Jojo Rabbit, Vingadores, Vicky Cristina Barcelona, Encontros e Desencontros, Moça com Brinco de Pérola) conta com o apoio de quase toda a comunidade hollywoodiana, embora não se saiba de outras estrelas decididas a seguirem seu exemplo. O fato é que a tecnologia impõe novos hábitos a todos, e isso já antes da pandemia.

EM VEZ DE FILMES, OS 

ESTÚDIOS PREFEREM

INVESTIR O MESMO

ORÇAMENTO EM SÉRIES

Como diz outro produtor no artigo, séries de 8 ou 10 episódios (aprox. oito horas de duração) jamais teriam espaço dez ou quinze anos atrás – seriam condensadas num filme de duas horas e todos ficariam satisfeitos com as receitas de bilheteria e vendas de DVDs. Esse tempo passou. Hoje, os estúdios preferem investir o mesmo orçamento em séries que possam ser estendidas em várias temporadas, e assistidas em casa, formato que o público cada vez mais parece apreciar.

O próximo passo será, quem sabe, remunerar os atores não mais por cachês e percentuais da bilheteria, mas por cliques, como já é usual no segmento jornalístico. Talvez eles ganhem bem mais.

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