Por Vanessa Zitzmann*

Às vezes, aquilo que vemos nas campanhas de marketing é incompleto, inexato ou sem viabilidade prática. Podem ser especificações exageradas, ocultação de defeitos e estudos de caso que são virtualmente impossíveis de recriar.

É importante deixar de lado todo o glamour do marketing e ir direto ao foco das inovações. E também entender por que uma nova tecnologia é melhor, e se ela de fato se encaixa em nossas casas – isso tudo combinado com a compreensão de que toda inovação tem seus pontos fracos.

No caso do 8K, continuo com algumas questões que gostaria de encaminhar a meus colegas da indústria eletrônica e profissionais em geral. Com base em minhas conversas com engenheiros, fabricantes, revendedores, instaladores e projetistas, enumerei cinco tópicos para ajudar a entender o futuro dessa fantástica tecnologia.

Inovação somente para os fanáticos

Quando foi lançada a tecnologia 4K, em 2013, falávamos apenas de transmissão na frequência de 30Hz, com processamento de cores em 4:4:4, profundidade de 8-bit e HDR com taxa de dados de 10.2 Gigabits por segundo. Isso era muito superior ao 1080p da época, mas já sabíamos que os benefícios do 4K dependiam dos metadados HDR na profundidade 10-bit.

Ou seja, seria necessária maior compressão de dados. E a infraestrutura de redes disponíveis então não suportava bit-rate de 18Gbps porque os cabos CAT6a admitiam no máximo 10.2Gbps. É bom lembrar disso quando você for investir em equipamentos 8K: ainda estamos no começo dessa tecnologia, com uma série de limitações!

Tudo depende da largura de banda

Ter uma compreensão sólida sobre os cálculos de largura de banda (bandwidth) que envolvem a distribuição de conteúdos 8K é essencial antes de investir nesses produtos. O verdadeiro 8K exige muito mais banda que o 4K. Os equipamentos 8K precisam ter, no mínimo, a capacidade de trafegar 32.08Gbps (no caso de 8K@30Hz em 4:2:0), ou 80.19Gbps para 8K@60Hz em 4:4:4.

A conexão HDMI 2.1 para 8K traz muitos benefícios além da resolução em si, como eARC, baixa latência (ALLM = Auto Low Latency Mode) e VRR (Variable Refresh Rate), só para citar alguns. Além disso, a largura de banda deve ser olhada como um todo dependente de vários fatores, como qualidade do cabeamento e velocidade da rede para streaming.

Transporte de dados a 40Gbps é apenas um ponto de partida para a tecnologia 8K. O site HDMI.org é uma ótima fonte de consulta sobre os muitos fatores que afetam a largura de banda.

Esperando pela atualização dos chipsets

Na ânsia de serem os primeiros a lançar a novidade, muitos fabricantes “se esquecem” de testar os equipamentos no mundo real. O resultado é que a maioria dos produtos 8K que estão chegando ao mercado só consegue suportar menos de 40Gbps. Estão descobrindo da pior forma possível que desenvolveram produtos não compatíveis com as atuais fontes de sinal.

Especialistas com quem conversei não acreditam que os atuais chipsets sejam capazes de cumprir as promessas do 8K. Estão na expectativa de atualizações que cheguem, mesmo, ao mínimo de 48Gbps (via HDMI 2.1), antes de recomendarem a compra de produtos 8K.

Ainda existe pouco conteúdo em 8K

Neste momento, não há muitos conteúdos gravados em 8K, o que não é surpresa considerando que até o “4K verdadeiro” (com resolução horizontal de 4.096 pixels) ainda não está satisfatório nesse quesito, apesar de já existir boa disponibilidade de TVs e projetores compatíveis.

Dito isso, a melhor maneira de obter conteúdos 8K é o streaming. Eventos esportivos em algumas regiões do mundo (especialmente o Japão) já estão sendo transmitidos pela TV em 8K; o YouTube oferece alguns vídeos, a maioria criados pelos próprios usuários; e começam a aparecer jogos nessa resolução para as plataformas PS5 e Xbox X. 

A meu ver, a melhor oportunidade para 8K está nos eventos esportivos em estádios e concertos de música em grandes espaços abertos.

Os benefícios do 8K exigem telas gigantes

Será que o olho humano consegue enxergar 8K? Sim e não. A resolução é quatro vezes maior que a do 4K, mas para seu aproveitamento é necessário ter uma tela grande e boa distância de visualização. Para uma pessoa com visão normal sentada a 3m da tela perceber a diferença entre imagens 4K e 8K, a tela precisaria ser de 280 polegadas!Quanto maiores a tela e a distância, melhor irá parecer a imagem 8K. Isso sugere que projetores podem ser ideais. De qualquer forma, imagens 8K são espetaculares, mesmo para quem assiste de longe. Tanto que devem estar cada vez mais presentes em estádios e grandes espaços para eventos.

*A autora é profissional da indústria e editora do site Connected Design. O artigo foi publicado originalmente no Dealerscope

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