Marisa, Tok & Stok, Amaro, Centauro, Riachuelo, Renner… essas são algumas das redes varejistas citadas numa detalhada reportagem do site Poder360, que cita informações de bastidores para mostrar o tamanho da crise no setor. Depois da “bomba” chamada Americanas no início do ano, o mercado vem se enchendo de rumores, em boa parte alimentados por notícias do mundo financeiro: há muitos fundos de investimento com forte presença no segmento de varejo, e são eles que acendem os alertas quando a situação ameaça se deteriorar.
Segundo a reportagem, os três maiores bancos privados do país (Bradesco, Itaú e Santander), que há anos financiam as redes varejistas, decidiram fazer provisões, o que, na linguagem financeira, significa se preparar para um possível calote. Como explicamos neste post, o Brasil tem uma longa tradição de crises no varejo, com grandes redes se endividando muito além do que seria razoável. E o caso Americanas mostrou, segundo alguns analistas, a chamada “ponta do iceberg”.
A lista de rede em dificuldades inclui até gigantes como Via Varejo, Magalu (vejam isto), Carrefour, Pão de Açúcar e C&A. Há casos de má administração, mas pesa muito o aumento da concorrência dos sites de compra chineses, como citamos aqui. Um dos indícios ruins é o aumento da inadimplência dos varejistas que mantêm lojas em shoppings, atrasando o pagamento dos aluguéis.
Outro aspecto citado pelos especialistas: algumas empresas não conseguiram manejar devidamente a crise da pandemia, quando muitas lojas deixaram de funcionar. Suas dívidas foram subindo e os bancos vieram em socorro, crentes de que, quando as lojas reabrissem, a situação se resolveria. Pelo visto, foi uma ilusão. Aqui, mais detalhes.
O negócio de varejo é excelente quando se tem moeda estável. Com a volta da inflação a partir de 2021, e a consequente alta dos juros, entrou em cena um velho mecanismo do comércio brasileiro: oferecer prazos de pagamento mais longos, com prestações fixas, tendo que repor os estoques a preços mais altos. Sem contar que a crise financeira provoca desemprego, limitando a capacidade de pagamento dos consumidores. A crise era inevitável.
A maioria dos executivos com quem temos conversado não quer nem ouvir falar de outra rede como a Americanas entrando em situação semelhante. Ainda segundo a reportagem do Poder360, o setor emprega atualmente mais de 8 milhões de pessoas e responde por 20% dos empregos formais no país. Nos últimos dois anos, as ações das redes na Bolsa somaram impressionantes R$ 339,6 bilhões, com reflexo sobre as vendas da indústria, os índices de desemprego e o recolhimento de impostos.
Isso tudo dá uma ideia da dimensão do problema, sem solução a curto prazo.