A pergunta acima poderia ser oposta: por que a McIntosh, uma das marcas mais cultuadas do áudio em todos os tempos, aceitou ser comprada pela Bose, especialista em fones de ouvido e caixas acústicas de pequeno/médio porte? A notícia, divulgada nesta 3a feira em comunicado conjunto das duas empresas, pegou muita gente de surpresa, incluindo alguns “McIntosh freaks” que conheço.

Na verdade, o McIntosh Group – que inclui a italiana Sonus Faber – já havia sido adquirido em 2022 por um fundo de investimentos do Texas. Fundos, quando compram empresas, estão pensando apenas na rentabilidade financeira: acabam se desfazendo delas quando encontram a melhor oportunidade. Portanto, não deveria ser surpresa o negócio anunciado hoje. Mas, por que Bose? É o que estão se perguntando muitos fãs da marca que consagrou o painel com medidor VU de fundo azul.

Não foram divulgados valores, mas sabe-se que a Bose Corporation é de fato muito maior que o McIntosh Group. Seu faturamento global em 2023 foi de aproximadamente US$ 3 bilhões, com 6.000 funcionários atuando em 25 países. É líder mundial em fones de ouvido e sistemas de áudio automotivos, e até recentemente atuava também no segmento de áudio profissional (confiram aqui). Não tenho informações sobre o faturamento da McIntosh, mas sabemos que possui menos de 300 funcionários e que seus produtos, entre os mais caros do mundo, não são acessíveis para muitos consumidores.

Bose no segmento de luxo

A explicação para o negócio veio numa entrevista concedida pela CEO da Bose, Lila Snyder, à emissora CNBC na manhã de hoje: “É a nossa oportunidade de entrar no segmento luxury“, disse ela, referindo-se a produtos com valor unitário superior a US$ 5.000. “Esse é um público diferente, que não estamos conseguindo atingir com nossas tecnologias. Temos uma boa chance de oferecer a eles produtos portáteis (wearables) de luxo. E talvez instalar nossos sistemas de cancelamento em veículos desses consumidores”.

Trata-se, portanto, de mais uma empresa que foge das oscilações do segmento dito “popular”, plenamente dominado pelos chineses, para explorar outro mais estável, algo que já vimos acontecer com a Sony, por exemplo. Os concorrentes da Bose, hoje, atendem por nomes como Apple e Google, embora nenhum tenha conseguido até agora competir com seu icônico fone QuietComfort, o primeiro com cancelamento de ruído, lançado em 2000 e ainda sendo produzido.

No mundo high-end, a concorrência é menos feroz. E ter uma marca como McIntosh faz muita diferença, como constatamos ao visitar a empresa em 2019. No comunicado, ficou claro que não haverá mudanças na administração da empresa fundada por Frank McIntosh em 1949. Aparentemente, os fãs da cultuada marca não precisam se preocupar.

 

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