Fala-se tanto no poderio econômico e comercial da China, mas por ser (ainda) um país muito fechado certos avanços passam desapercebidos. E um deles pode surpreender: a tecnologia de satélites, especialidade da Starlink de Elon Musk. Para quem se admira com as conquistas da gigante americana, que não têm sido poucas, é interessante avaliar como os chineses estão encarando essa disputa. Há cerca de dez anos, o governo liderado por Xi Jin Ping tomou a decisão de avançar com a tecnologia de satélites, de olho na futura evolução das comunicações e, em especial, da internet (vejam aqui).

Daí surgiu o plano chamado FITI (em português, Infraestrutura de Tecnologia da Internet do Futuro), que alguns especialistas apelidaram “10G”, numa referência às redes de alta velocidade, medidas em gigabites. O apelido não deve colar porque estamos falando não de giga, mas de terabits: 1,2Tbps – isso mesmo: terabits por segundo – é a capacidade das novas redes chinesas de banda larga.

 

Megainstalação espacial made in China

 

Segundo Leon Wang, vice-presidente da Huawei, empresa líder do setor de telecom, isso equivale a transmitir 150 filmes em alta definição por segundo! O primeiro passo do projeto foi construir uma rede com 3.000 quilômetros de fibra óptica ligando as cidades de Pequim, Wuhan e Guangzhou. Com certeza, é hoje a rede mais rápida do mundo.

A agência de notícias Global Times, oficial do governo chinês, divulgou o plano em detalhes, destacando que tudo está sendo feito com equipamentos, software e pessoal local. O projeto, como quase tudo que se faz na China, é gigantesco, inclusive em suas ambições planetárias. A ideia é mostrar a independência tecnológica do país, num momento em que os EUA fazem o mesmo (só que usando outras armas).

Este artigo em inglês, publicado em agosto passado, revela esses e outros detalhes. Mas, voltando aos satélites, os números divulgados dão uma boa ideia dos objetivos chineses. O projeto Qianfan – que em inglês ficou conhecido como Thousand Sails Constellation – é, segundo o Global Times, uma megainstalação espacial formada por mais de 15.000 satélites do tipo LEO (Low-earth Orbit). Desse total, 54 entraram em operação no ano passado e outros 600 irão ao espaço até o fim de 2025. Os demais seguirão até 2030.

 

Congestionamento a 2.000km de altura

 

Hoje, a Starlink é líder absoluta nesse tipo de satélite, que provê conexão de banda larga para áreas do planeta não atendidas por redes cabeadas – no Brasil, há várias delas. A tecnologia LEO é muito mais barata e eficiente, nessa aplicação, do que os satélites convencionais, que giram a 36.000 quilômetros da Terra (os LEO orbitam a no máximo 2.000km, sendo que alguns descem até a 160km de altura).

Dá pra imaginar a cena lá em cima: milhares de satélites “poluindo” a galáxia – e, em muitos casos, fatalmente impedindo a passagem da luz solar até aqui em baixo. Esta animação mostra parte do espetáculo. É um congestionamento monstro, do qual agora os chineses querem uma fatia!

 

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