Recebi a mensagem de um amigo. De repente, após vinte anos de serviços bem prestados, seu TV apagou. Não, já não se fazem mais TVs que duram vinte anos. Meu amigo – que não é ligado em tecnologia – não tinha se dado conta de que passara da hora de trocar. E, afinal, após tanto tempo o TV já tinha se tornado quase parte da família. Antes de receber o aparelho novo, ele escreveu um primor de texto, em homenagem ao falecido, digo, apagado. Leiam e se emocionem:

“Não há como explicar muito essa relação. Como em todas as outras, houve sim uma certa acomodação. Aquele velho chavão: virou amizade, e amizades sinceras são intocáveis. Principalmente porque nunca aconteceram problemas sérios. E nem mesmo menos sérios. Só mesmo aquele desgaste cotidiano, tão difícil de detectar.

“Bastava que nos colocássemos um diante do outro e tudo estava resolvido. Como por encanto, era só aquela luz mágica se acender e novamente nos distraíamos, longas horas ali rindo ou nos emocionando juntos. Verdade que muitas também nos indignando, mas nunca um com o outro. Meras interferências desse mundo de tantos desencontros e irresponsabilidades.

“Mas agora parece que há um impasse mais sério pra se resolver. De repente, a luz se apagou e foi como quando sofremos aquele branco mental, em que não sobra um só registro de imagem ou de racionalidade, para nos situarmos no tempo e no espaço. Nada, somente o silêncio. Seguido de pânico: cadê você, volte aqui, V. não pode nos deixar assim sozinhos, sem dizer nada, nenhuma explicação, alguém nos ajude…    

“Nada, só aquele pensamento maldito para perturbar, em tom severo de cobrança: acorda!!! Será que Vs. não vêm? Por que insistem em fugir assim dos problemas? Quando é que vão enfrentar essa verdade verdadeira? Ele viveu os melhores anos aqui, mas agora quer descansar, ora. Repitam pra si mesmos, pra se convencerem: nosso aparelho de TV ficou velho!

“Uhhh! Quanta maldade. Porque não é verdade. Chegou apenas à idade adulta, mas é jovem. Desde quando vinte anos é velhice? Mas essa juventude de hoje é assim mesmo. Não quer nada com nada, não é? 

“Também isso não é verdade. Durante esse tempo todo ele nos deu o melhor dos seus dias de vida. Só agora, pela primeira vez nesses vinte anos, nos deixou sem uma imagem sequer. Mas justo numa noite de sexta?  Ligamos, desligamos, tiramos da tomada, contamos até dez, até vinte, e nada. Inconformados, demos uma volta pelo bairro, voltamos pra jantar, e ele lá na mesma atitude. Soturno. Arriscamos um baralho a dois pra passar as horas, mas quer coisa mais monótona? Então, cama.  Só então baixou aquele sopro da compreensão: temos que entender as razões do nosso TV. É puro cansaço.”

5 thoughts on “Adeus a uma amizade sincera

  1. Boa noite, diga para seu amigo aprender a se despedir das tvs elas nao duram mais nada!

  2. Bastante curioso estou para saber qual a marca e modelo desta TV. Poderiam dizer qual é?

  3. Infelizmente não posso dizer o mesmo da minha quase nova LG de 37″, a primeira desse tamanho com conversor HDTV. Muito pouco utilizada porque a família preferia, evidente, mais a imagem da excepcional TH-50PZ80LB Plasma da Panasonic que, também, com mais de 5 anos ainda presta excelentes serviços à familia, ao lado da fabulosa 65VT50b, que ainda não provou ao que veio em termos de qualidade intrínseca, por ter menos de 2 anos de uso de 9 horas diárias. A LG, coitada deu aquele velho e clássico defeito das TVs dessa marca, que vem a ser, funciona só quando quer. Jamais vou precisar de perder qualquer tempo em escrever algum primor de texto a favor dessa péssima servidora doméstica eletrônica, e nem mesmo uma 4K dessa marca eu jamais cogitaria em comprar, afinal meu dinheiro não nasce em árvores. A minha velha Toshiba de 29″ deve estar ainda viva na casa de algum qualquer, com mais de 20 anos de serviços prestados. Não se fazem mais produtos confiáveis como antigamente.

  4. Orlando, há mal que vem pra bem. E no caso de seu amigo, acho que graças a Deus o TV pifou.
    Com tantas novidades nesse mundo……., ele estava perdendo tempo, mesmo gostando tanto de seu aparelho.
    Eu também sou muito ligado em aparelho de TV. Lembro-me que por volta de 1992, comprei uma Philips de incríveis 20″ com som estéreo, foi o máximo, curti muito.
    Mas como o tempo nos premiou com tanta tecnologia, prefiro até esquecer o passado. Hoje sento no sofá e ligo minha Sony 55″ mas, que já pretendo trocar por uma 4K.

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