Tudo indica que foi mesmo adiado (sabe-se lá para quando) o projeto de uma montadora de produtos Apple no Brasil. Depois de vários desmentidos, o governo admitiu na semana passada que não conseguiu o indispensável apoio de um grupo brasileiro forte, que seria responsável pela maior parte do investimento (estimado em R$ 12 bilhões). Executivos da Foxconn, que implantaria a unidade em Jundiaí (SP), estiveram em Brasilia há duas semanas e disseram ao ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, que só voltarão quando o governo desembrulhar esse verdadeiro abacaxi.

Não vou aqui recapitular a história. Mas chama atenção a postura das autoridades brasileiras. Primeiro, Mercadante e a presidente Dilma Roussef anunciaram o negócio como “fechado”, em abril, dando a nítida impressão de estar “jogando para a torcida”. Depois, o ministro enrolou-se em sucessivos anúncios de que a fábrica iria começar a operar – primeiro em junho, depois julho, setembro, dezembro… até que, finalmente, na semana passada admitiu a verdade. Não teria sido mais sensato ser transparente desde o começo, mostrando à opinião pública que um projeto como esse não sai assim, na base do “vamos lá, moçada”. Num evento outro dia, Mercadante afirmou: “A negociação é bastante complexa, as condições de estrutura, tecnologia, energia… É uma exigência ter sócios brasileiros, e os que temos em tecnologia não têm musculatura financeira para investimentos próximos a esse valor.”

É mesmo? De onde, então, tiraram lá atrás a ideia de que os chineses iriam em poucos meses transferir máquinas, tecnologia e pessoal especializado para este outro lado do mundo, enfrentando a estúpida burocracia, a tributação absurda, as leis trabalhistas fora da realidade e a falta de infraestrutura brasileiras?

É o que dá jogar para a torcida, em vez de enfrentar a realidade. Por sinal, lamentável a conduta de parte da imprensa brasileira, que embarcou nessa sem maiores questionamentos. Desconfio que será idêntico o destino do trem-bala.

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